A Representação da Mulher na Obra de Stephen king

Tang
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Ao longo dos anos houveram muitas críticas direcionadas ao autor Stephen king relacionadas a falta de empoderamento feminino em seus livros. Suas personagens, que apesar de serem bastante fortes e inteligentes, eram subjugadas em detrimento do desenvolvimento dos personagens masculinos, que normalmente recebiam todas as atenções e sempre tinham a tão chamada "jornada do herói", ou seja, os homens sempre salvavam o dia, enquanto as mulheres só estavam ali para parabenizá-los e satisfazer suas vontades.

Diante de todas essas críticas, Stephen king começou a dar mais atenção a suas personagens femininas, e percebeu que, de fato, seu modo de trabalhar com as mulheres era bastante problemático. Em seu texto, por muitas vezes havia um tom exagerado de sexualização direcionado as mulheres; um bom exemplo é a tão falada cena de sexo no livro "IT – A Coisa (1986)", onde nossa única personagem feminina, ainda criança, vai transar com os outros seis personagens principais do livro, nos esgotos da cidade.

Sabendo dessa problemática, e disposto a mudar essa questão em suas histórias, King passou a trabalhar com protagonistas mais fortes e feministas, e a discutir fortemente a questão do machismo na sociedade atual. Mas claro, sem abandonar o estilo clássico do terror que os leitores tanto gostam.

Vamos analisar algumas dessas obras;

1) Mulheres Iluminadas

No Kingverso existem os "iluminados", pessoas com habilidades especiais designadas por Deus para enfrentarem um grande desafio ao longo de suas vidas. No caso das mulheres, a iluminação está diretamente ligada a natureza feminina, que é intensa e extremamente poderosa. Em alguns casos, o poder da iluminação pode ser uma benção, mas na maioria das vezes acaba sendo uma maldição e a vida dessas mulheres acaba virando um verdadeiro martírio. Como é o caso da nossa primeira protagonista, e também a primeira "iluminada" desse extenso universo;

Carrie White (1973); opressão e telecinese 

Carrie é uma garota desajustada e muito solitária, sua vida é um verdadeiro inferno, já que ela é diariamente feita de chacota por seus colegas de classe, e também costuma sofrer constantes abusos dentro de sua própria casa. Sua mãe, Margareth White, é uma fanática religiosa fervorosa, que considera as habilidades especiais de Carrie não uma benção, mas sim uma maldição.

Carrie é bastante poderosa, pois ela tem habilidades de telepatia e telecinese, visto que, ela estava cansada dos inúmeros abusos que estava sofrendo, acaba tramando um plano de vingança contra todos aqueles que lhe fizeram mal. Agora, pela primeira vez, usando sua iluminação a seu favor.

Charlie McGee (1980); Fogo e Sexo

Os pais de Charlie aceitaram participar de um experimento científico feito pelo governo, e desse experimento nasceu a menina Charlie, uma garotinha com uma imensa capacidade de criar fogo apenas com o poder de sua mente.

Preocupados com o que sua filha será capaz de fazer com esse "fogo", os pais de Charlie ensina pra ela que fazer fogo é uma coisa errada, e que deve ser evitada a qualquer custo; é claramente uma analogia ao sexo, Charlie é uma menina temperamental, que cresce acreditando que fazer "fogo" é uma coisa perigosa e acaba retraindo esse "poder", tornando-se submissa de sua própria capacidade.

Mãe Abagail (1978); Deus e Fé 

Nesse romance épico de Stephen king, após um vírus de gripe eliminar 99,9% da população, os sobreviventes terão que se agrupar novamente a fim de reconstruir a sociedade. Mas, nesse cenário, haverá uma divisão moral envolvendo dois seres iluminados, eles é que ficam responsáveis por refazer a sociedade.

As pessoas más vão de encontro ao Rendall Flagg, ele que é considerado o mal encarnado.

E as pessoas boas vão de encontro a Mãe Abagail, uma velha senhora de 108 anos que possui a incrível capacidade de conversar com Deus e ser respondida por ele, é usando essa habilidade que ela vai tentar levar os sobreviventes para um caminho seguro.

2) Protagonistas Empoderadas

Os anos 90 foi o ano que o King mais trabalhou com o feminismo em seus livros, apostando nas mulheres como protagonistas (coisa que não acontecia muito nos anos 70 e 80) e usando dessa característica para fazer fortes críticas ao machismo e a opressão que as mulheres sofrem diariamente na nossa sociedade, ele deitou e rolou na própria fantasia, e ainda prestou um bom serviço a essa causa... o fato de que ele estava muito a frente de seu tempo é só um detalhe;

Dolores Claiborne (1991); culpada ou inocente?

Esse livro foi escrito de uma forma completamente diferente, uma vez que, do início ao fim, nós vemos apenas o relato da protagonista, sem pausas e nem interferências de personagens secundários, apenas a voz da Dolores narrando detalhadamente como foi que ela matou o marido, suas razões e suas motivações.

Essa história vai discutir o machismo da sociedade em relação ao matrimônio, e o fato do marido ter todos os direitos sobre a casa, os filhos e o dinheiro, sendo que a mulher, por muitas vezes, não possui voz ativa em todas essas questões; lembrando que é uma história de época!

Dolores sofreu inúmeras formas de opressões por parte de seu marido, e sem conseguir pedir socorro para ninguém, ela mesma teve que tomar uma atitude.

Jessie Burlingame (1992); jogos sexuais e traumas de infância 

Jessie e seu marido se reúnem numa casinha isolada para fazer alguns jogos sexuais e quem sabe assim, esquentar um pouco essa relação amorosa que há muito tempo andava sem muita emoção.

Mas, ao ser algemada na cama por seu marido, Gerald, Jessie começa a relembrar de algumas coisas que aconteceram na sua infância, coisas que são traumas profundos e que agora começam a reacender, fazendo Jessie ficar completamente em pânico. 

As coisas dão muito errado quando Gerald sofre um ataque do coração e acaba morrendo antes de tirar as algemas de Jessie. Agora, presa na cama e sendo atormentada por seus traumas mais profundos, Jessie precisa encontrar um jeito de libertar-se daquelas algemas; tanto física quanto psicologicamente.

Esse livro discute os piores traumas que uma mulher pode passar na vida, pra ser mais exato, são traumas sexuais.

Rose Madder (1995); agressão doméstica e a busca pela liberdade 

Rose passou muitos anos sofrendo inúmeras agressões físicas e psicológicas por parte de seu marido, Norman, que é completamente insano. Após levar mais uma daquelas surras, Rose descobre uma gotinha de sangue no lençol da cama, provavelmente escorreu de seu nariz quebrado; isso faz ela perceber que precisa escapar logo dessa vida, antes que Norman acabe matando ela.

Esse livro discute agressão doméstica, machismo e a tão falada sororidade feminina, uma vez que, Rose vai até um abrigo para mulheres desabrigadas e lá finalmente encontra ajuda para fugir de Norman e começar uma nova vida.

3) Mulheres Sádicas, Violentas e Cruéis

Mas nem só de opressão vive uma mulher, King também trabalhou com mulheres cruéis ao longo dos anos, invertendo um pouco os papéis, agora, são os homens que sofrem nas mãos delas; e que Deus ajude o coitado que cruzar o caminho delas.

Annie Wilkes (1989); sua fã número 1 

Considerada por muitos a melhor vilã do Stephen king, e eu concordo muito, Annie Wilkes é extremamente louca e cruel. Ela teve a sorte de resgatar seu autor favorito, Paul Sheldon, de um terrível acidente de carro, ela o leva para sua casa, cuida dele e também o mantém em cárcere privado. No auge de sua loucura, Annie irá obrigá-lo a escrever um novo romance de Misery, mas dessa vez, em sua homenagem.

Simplesmente não consigo descrever tamanho loucura e sadismo por parte dessa personagem, em determinado momento do livro vamos acompanhar o passado da Annie, e as coisas que ela fazia com os pacientes, na época que trabalhava como enfermeira num hospital: posso dizer que é simplesmente aterrorizante!

A personagem foi protagonista da segunda temporada da série "Castle Rock", eu como fã achei fantástico!

Rose, A Cartola (2013); e o verdadeiro nó

Rose é uma vampira psíquica e também a líder do "verdadeiro nó", eles são monstros quase imortais que se alimentam do vapor de crianças iluminadas (lembram da Carrie e da Charlie?); eles sequestram inúmeras dessas crianças e as torturam até a morte, pois, segundo eles "o sofrimento purifica o vapor".

Rose é a responsável por capturar essas crianças,  cabe a ela torturá-las com resquícios de crueldade, e assim roubar o vapor da iluminação. Rose faz isso sentindo um imenso prazer; isso faz dela uma das vilãs mais sádicas criadas por Stephen king.

Pennywise (1986); os filhotes pelo multiverso

SIM, Pennywise é uma criatura feminina, mais precisamente uma aranha fêmea. Seu poder de mudar de forma, e o fato dela, na maioria das vezes, se apresentar como um palhaço dançarino, faz com que as pessoas pensem que Pennywise é uma criatura masculina, mas isso é um tremendo engano.

A aranha se alimentava dos habitantes de Derry e de seus medos mais profundos, até que foi derrotada pelo "clube dos perdedores", mas, antes de morrer, ela abortou milhares de ovinhos pelos esgotos de Derry, e alguns deles até chegaram a chocar, isso faz com que os fãs mais atentos criem teorias e alguns dizem que até hoje existem filhotes de Pennywise vivendo no Kingverso, será?

Essa foi algumas das personagens femininas mais importantes criadas por Stephen king, post feito apenas a título de curiosidade. 

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