Autoria: Lucas Tang
Introdução:
Manoel Carlos tinha em seu currículo um longo histórico de boas produções. Suas tramas eram sempre muito elogiadas pelo público e critica: foi assim durante três décadas inteiras.
Autor de grandes novelas, seu nome era referência na Globo.
Muito se deve esse sucesso a parceria feita com o diretor de núcleo Ricardo Waddington: a dupla nasceu em ''História de Amor'', a novela fez bastante barulho no ano de 1996 por ter características de uma típica trama das nove, e após colher os bons frutos de um enorme sucesso, Maneco quis investir em outra novela urbana com direção de Ricardo Waddington, porém, dessa vez, em horário nobre. Sendo assim, pouco tempo depois nascia ''Por Amor'', novela que viria a ser uma dos maiores sucessos dos anos 90.
É de praxe em novelas cotidianas encontrarmos um texto mais sensível, repleto de bons diálogos e conflitos interessantes, assim, nascem os dilemas sociais que fisgam a atenção do público. Mas como nem só de bom texto se faz uma novela, é necessário termos alguma ação entre uma cena e outra, para que as donas de casa não durmam frente a televisão ou mude de canal para um programa de auditório qualquer. Manoel Carlos tem certa dificuldade em criar tramas mais ágeis, suas novelas costumam ser mais lentas e introdutórias, eu particularmente, não considero a lentidão um defeito, assim se constroem bons personagens, e com o tempo a história sempre acaba pegando mais ritmo, a lentidão acaba sendo um ponto positivo no decorrer da obra.
Acontece que nem todos tem paciência de esperar cinquenta capítulos para que a história engrene de verdade, esse é o principal motivo para o Manoel Carlos ser tão criticado por alguns gatos-pingados.
(penso que as pessoas confundem lentidão com construção narrativa, mas isso é pauta para outro texto)
O diretor Ricardo Waddington deu tão certo dirigindo as novelas do Manoel Carlos por dois motivos: o primeiro porque ele trouxe a agilidade que faltava no texto do autor, podemos notar que, ao dirigir cenas de brigas familiares com muito mais emoção e agilidade, as novelas se tornaram mais intensas, ele acabou suprindo a falta de agilidade que faltavam nos capítulos comuns. O segundo motivo: penso eu, foi porque o público gostou dessa ''quebra'' de estilos, ele e Manoel Carlos são dois opostos, mas que por algum motivo, se atraem.
Dito isso, finalmente posso ir direto ao ponto: após uma trinca de grandes sucessos no horário mais nobre da casa (Por Amor, Laços de Família e Mulheres Apaixonadas), chegava ao fim a exitosa parceria entre autor e diretor: acredito que Ricardo Waddington teve vontade de trabalhar com outros autores, em outros estilos de novelas. Maneco aceitou de bom grado a decisão do amigo e engatou uma nova parceria com Jayme Monjardim, diretor conhecido por sua direção lenta e monótona... parece a parceria perfeita para o Manoel Carlos, autor de novelas calmas e cotidianas, certo?
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Após o grande sucesso de 'Belíssima', novela de Sílvio de Abreu, a responsabilidade de sua substituta era alta. A Globo encomendou uma nova novela de Manoel Carlos com direção de Jayme Monjardim. A expectativa era grande, pois seria a estreia da dupla após a saída de Ricardo Waddington, e após o enorme sucesso de ''Mulheres Apaixonadas'', acredito que a emissora esperava dessa nova novela nada menos que um fenômeno de audiência.
Assim nascia ''Páginas da Vida'', a exitosa novela trouxe uma trama sensível e repleta de dilemas sociais. Com um elenco numeroso, em sua grande maioria, veteranos da casa, nos foi entregue muitas cenas marcantes que ficaram pra história.
Bastante premiada, a novela fez sucesso tanto no Brasil quanto no exterior.
Mas como nem tudo são flores, houve uma queda enorme de qualidade entre a novela anterior do autor e essa nova trama. Já na primeira semana podemos perceber a lentidão excessiva da história, a direção de Jayme Monjardim não casou com o texto do maneco. E o excesso de personagens: mesmo a pouco tempo no ar, o público pôde notar que não teriam função na trama.
É um pouco difícil falar de ''Páginas da Vida'', pois, foi uma boa novela, de grande sucesso, (aqui nós temos uma das melhores vilãs da década passada), mas também foi uma novela cheias de problemas de produção, personagens esquecíveis, e subtramas maçantes.
Tentarei explicar tudinho nessa resenha.
enredo:
Um detalhe peculiar sobre o desenvolvimento da narrativa: não temos uma protagonista definida, nem mesmo temos um eixo central, apenas vamos acompanhando a história dessas personagens e seus conflitos mais internos. A novela foi dividida em duas fases.
Primeira fase:
Aqui vemos a jornada de Nanda, uma jovem estudante, que está morando em Amsterdã para se formar em história da arte. A jovem se apaixonou por um rapaz inconsequente chamado Léo, moço rico que é constantemente cobrado pelo pai para assumir os negócios da família.
Mesmo ainda não sendo casados, os dois mantêm relações de marido e mulher. Numa dessas transas irresponsáveis, Nanda acabou engravidando do namorado.
Ela decidiu contar sobre a gravidez no dia do seu aniversário, na esperança do rapaz receber melhor a notícia: mas ela caiu do cavalo, ele recebeu a notícia da pior maneira possível, disse que não iria assumir essa criança, pois foi enganado pela namorada. Ele a acusou de dar o golpe da barriga (aqui vemos o primeiro grande momento da novela), tratou logo de cortar relações com a jovem e simplesmente a abandonou, gravida, sozinha e sem dinheiro, num país estranho.
Desesperada, Nanda encontrou conforto nos braços da amiga Olivia, que está sempre pronta para ajuda-la em tudo que for possível. Às duas se encontraram por acaso em Amsterdã, Olivia estava em lua de mel e num de seus passeios românticos, esbarrou em Nanda, outra brasileira, morando num país estrangeiro... Olivia achou incrível essa coincidência e às duas logo começaram uma amizade. Às amigas estavam trocando confidencias e0 contando segredos uma pra outra, foi quando Nanda disse sobre a gravidez. Contou que estava em Amsterdã para estudar e ter um diploma, mas acabou gravida e abandonada.
Agora ela tinha de voltar para o Brasil, mas estava com medo de ter que enfrentar a mãe, Marta, pois teria que contar sobre a gravidez, e dizer também que estava gastando o dinheiro dos estudos com consultas médicas e afins. Mas Olivia aconselhou a amiga dizendo que ela deveria voltar para o Brasil e dizer toda verdade para a família. E assim Nanda o fez.
Marta era quem estava pagando os estudos da filha, com muita dificuldade, pois ela também tinha de sustentar a casa. É casada com Alex, homem de bom caráter, mas que não consegue trabalhar e trazer sustento para casa, pois vive com a saúde debilitada. Além de pagar todas as contas, Marta também tem de arcar com as despesas do filho adolescente, Sérgio, que segundo ela - ''é um encostado, igualzinho o pai!''. Infeliz e amargurada, ela costuma ser muito cruel quando se refere ao marido e o filho os chamando de preguiçosos ou vagabundos, ela fala essas coisas com grande naturalidade, sem se preocupar com os sentimentos dos dois (aqui o autor já estava dando a personagem traços de psicopatia), mas apesar dos pesares, essa personagem ainda se mantém equilibrada, ela só viria perder a sanidade mental mais pra frente, quando Nanda voltou de viagem e disse a verdade sobre a gravidez não planejada.
Alguns meses depois, quando Nanda chegou ao Brasil (muito mais cedo do que deveria), primeiro ela marcou um encontrou com o pai no aeroporto. Alex levou um susto quando viu que a filha estava gravida, Nanda estava com uma barriga enorme. Mas apesar do choque, relevou, tratou a filha com todo amor e carinho, tentou entender a situação da melhor maneira possível. Porem, ficou ainda mais perplexo quando Nanda revelou que estava gravida de duas crianças.
O difícil seria enfrentar a fúria de marta. Os dois planejavam chegar juntos em casa e soltar logo a bomba para acabar de ver com essa história. Parecia o melhor a se fazer.
Quando chegaram em casa, eles nem precisaram dizer nada, Marta logo entendeu o que estava acontecendo: primeiramente, ela pensou em todo o dinheiro gasto com os estudos da filha, aquele investimento simplesmente não teria mais retorno (note que em nenhum momento ela demonstrou preocupação com o bem-estar da filha). Marta deu uma surra em Nanda, sem se importar se ela estava gravida ou não, e logo depois a expulsou de casa. (cena antológica que ficou pra história).
Mas Alex a trouxe de volta alguns dias depois, a mãe que ainda não tinha engolido essa história passa a infernizar a vida da filha diariamente, com gritos e ofensas. passamos a presenciar atitudes cada vez mais cruéis da megera.
Numa dessas discussões com a filha, Marta a acusa de ter dado o golpe da barriga no namorado rico, mas como o rapaz não é idiota, percebeu tudo, foi embora e a deixou sozinha para criar os bebês.
Nanda foge desesperada de casa e vai para um ponto de ônibus onde é atropelada por um carro desgovernado. A jovem entrou em trabalho de parto e foi levada as pressas para o hospital.
Helena foi quem fez o parto dos gêmeos: assim nascia Francisco e Clara. A médica fez de tudo para salvar a vida de Nanda, mas após sofrer um terrível acidente e dar a luz a gêmeos, a jovem não sobreviveu. As crianças eram órfãos de pai e mãe.
Quando soube do falecimento da filha, Alex levou um susto tão grande que acabou sofrendo um ataque do coração, foi levado as presas para o hospital, onde ficou até o fim da primeira fase.
Marta foi chamada para conversar com Helena na maternidade onde nasceram as crianças. Com a morte da filha, e o marido hospitalizado, ela naquele momento era a única responsável pelos bebês. A vilã já estava disposta a renegar os netos, mas quando foi informada que o menino era lindo e nasceu com saúde, mesmo relutante, aceitou ficar com a criança. Mas diferente do irmão, a menina não nasceu com saúde, tinha síndrome de Down, num discurso completamente insensível, Marta recusou-se ficar com a neta, alegando não ter dinheiro nem paciência para cuidar de uma criança especial. Disse até que seria capaz de jogar a menina na lata do lixo. Helena estava completamente horrorizada, a médica insistiu para a vilã reconsiderar, mas foi em vão. Marta não queria mesmo a neta.
Helena é uma mulher divorciada e feliz, vive com o filho adotivo e a empregada. Cheia de compaixão pela filha de Nanda, se recusou a levar a criança para um orfanato. Decidiu então adotar a menina: em segredo, sem que Marta soubesse, entrou com um pedido de adoção na justiça, enfrentou algumas dificuldades, mas no fim conseguiu a guarda de Clara. Helena a criou com muito amor. Foi assim pelos próximos cinco anos.
Marta tinha que dizer a Alex o que tinha acontecido com a menina, ela então contou uma mentira que viria a trazer muitos problemas mais pra frente, ela disse que a menina nasceu muito fraquinha e doente, e acabou falecendo algumas horas depois.
segunda fase:
Cinco anos se passaram.
Os filhos de Nanda foram separados quando ainda eram dois bebês de colo. Clara foi adotada por Helena, e Francisco está sendo criado pelos avós.
Marta ainda enfrenta dificuldades de manter a casa, agora ela tem uma boca a mais para alimentar e a situação financeira não está nada fácil. Ela culpa o menino Francisco por todas as dificuldades que a família vem enfrentando, a vilã demonstrava toda a sua amargura sempre que olha para o neto com ódio e desprezo.
O pai das crianças está de volta ao Brasil, agora ele cuida dos negócios da Família e possui muito dinheiro. Olivia, a amiga de Nanda, o encontrou por acaso almoçando em um restaurante com a namorada: ela não perdeu tempo e tratou logo de dizer a ele o que tinha acontecido com a Nanda e os bebês. Léo estava muito arrependido pelo que tinha feito, decidiu então correr atrás do prejuízo se aproximando de Francisco e entrando com um processo de paternidade na justiça. Ele queria a guarda do filho a qualquer custo, em partes, porque se sentia culpado pelo que fez com a Nanda.
O avô de Francisco amava o menino mais do que qualquer outra coisa nesse mundo, estava disposto a lutar por ele na justiça. A partir daí vemos uma briga entre dois homens disputando o amor de uma criança, (uma discussão emocionante que nos trouxe grandes conflitos). Léo contou com o apoio de Marta, que aceitou um bom dinheiro para facilitar no processo pela guarda do menino, assim ela o fez.
Ninguém sabe ainda que a menina Clara está viva. Apenas Helena, que ao descobrir que o pai das crianças está de volta ao Brasil e lutando pela guarda de Francisco, tratou logo de esconder a menina para que ele não venha tentar tirar sua filha de seus braços.
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Pontos positivos:
A paternidade:
Em muitas novelas costumamos ver uma visão negativa sobre a paternidade. Os pais normalmente são intolerantes com seus filhos, ás vezes até violentos, fica parecendo que o amor só existe entre as mães e suas crias, parece até que os homens são incapazes de amar.
Todavia, na ''Páginas da Vida'' nos foi apresentado o personagem Alex: homem de bom coração, que por amor a filha, lutou com unhas e dentes para defendê-la da crueldade da mãe. Apoiou sua gravidez não planejada, mesmo com a esposa agindo violentamente quando a expulsou de casa, ele correu atrás e deu todo o suporte para Nanda: que naquele momento estava precisando de toda ajuda possível. Aqui nós temos um pai que dedica todo seu amor para os filhos, coisa rara nas novelas.
Cinco anos após a morte da filha, Alex transferiu o amor que sentia por Nanda para o neto Francisco. É emocionante ver a relação afetiva dos dois. O menino entra em defesa pelo avô sempre que a avó megera tenta humilhar o marido.
E Alex, por sua vez, lutou bravamente para ficar com a guarda do neto quando o pai biológico de Francisco apareceu muito tempo depois querendo uma reaproximação tardia com o menino.
Com uma atuação digna de Oscar, Marcos Caruso soube interpretar esse personagem como ninguém. Podíamos ver a tristeza nos olhos de Alex sempre que ameaçavam tirar o neto de seus braços, também era notável o ódio que ele sentia da esposa, sempre que a megera maltratava o menino Francisco.
Grande Alex! Grande Manoel Carlos!
A maternidade:
Manoel Carlos demonstra muita sensibilidade ao abordar os dilemas da mulher em suas histórias. A maternidade está sempre em pauta nas suas novelas, ele faz questão de mostrar o quão importante é o amor materno na vida dos filhos. E o quão forte pode ser esse amor, a mãe seria capaz de derrubar qualquer barreira para proteger os filhos.
Na primeira fase da novela vemos Nanda lutando para manter uma gravidez que não foi planejada. A jovem teve de enfrentar o abandono do namorado, a crueldade da mãe e ainda por cima, uma gestação de risco, já que ela estava esperando duas crianças, sendo que uma delas era menor e ao que parece possuía algum problema de saúde. Nanda jamais pensou em aborto, mesmo antes das crianças nascerem ela já tinha desenvolvido um forte extinto materno e iria proteger as crianças contra qualquer fatalidade. Ela assim o fez até o dia de sua morte.
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Helena foi a médica que realizou o parto dos gêmeos, e presenciou a morte da Nanda logo após a jovem dar á luz. Ela precisou dar a notícia para a avó das crianças: Marta foi informada sobre a morte da filha, e que agora ela é quem teria de cuidar dos gêmeos, mas acontece que a menina Clara nasceu com a síndrome de Down, então precisaria de cuidados especiais. A vilã Marta se recusou a criar a neta, destilando muito preconceito disse que não poderia ter uma neta ''mongoloide'', o melhor seria levar a menina para o orfanato.
Helena que possuía um sentimento materno muito grande, decidiu registrar a menina na justiça como sendo sua, em segredo, a criou com todo seu amor. E quando o pai biológico da Clara apareceu para tirá-la de seus braços a médica lutou com toda força de seu coração para que não perdesse a guarda da menina.
A crueldade de Marta
Essa pode ser a melhor vilã da década passada. Vários fatores contribuem para que Marta seja considerada a vilã mais complexa da teledramaturgia brasileira, essa personagem recebeu muitas críticas por sua imensa crueldade ao tratar da gravidez da filha com ódio e violência, chegando a dar uma surra em Nanda, que naquele momento já estava num estágio avançado da gestação. Mas por outro lado, também foi defendida por muitas pessoas que davam razão a personagem.
Marta pagou durante muitos anos a faculdade da filha, Nanda foi estudar história da arte em Amsterdã, mas acabou ficando grávida e usou o dinheiro que a mãe mandava para fazer o pré-natal dos bebês: Marta teve seus motivos para agir daquela forma, mas também não precisava ser tão fria com a filha, a vilã nas vezes que torturou Nanda com perguntas e questionamentos sobre a paternidade dos bebês, não demostrava ter o mínimo de empatia, com palavras cruéis que chocaram os telespectadores, a vilã fez da vida da filha um inferno, tanto que Nanda morreu após uma briga feia com a mãe, a jovem saiu desesperada de casa e acabou sendo atropelada.
Marta não demonstrou muito arrependimento ao saber da morte da filha, muito pelo contrário, a vilã foi ficando cada dia mais louca. Ainda mais que, agora ela é quem teria de criar o filho de Nanda, a menina foi deixada no hospital para adoção, mas o menino ela teve de levar para casa.
Marta estava em desequilíbrio mental, culpava Francisco pelas dificuldades financeiras que ele teve de enfrentar após a morte da filha. Até que surge Léo, o pai biológico do menino, oferecendo uma grande quantia em dinheiro para levar o menino embora, ela não pensou duas vezes e aceitou a proposta. A vilã estava vendendo o próprio neto.
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Aqui nós vemos a construção de uma autentica psicopata (fato comprovado por um psiquiatra nos últimos capítulos da novela), Maneco fez isso com tanta maestria que boa parte do publico nem percebeu que a vilã tinha traços de psicopatia. Ela até foi defendida por muitos, as pessoas achavam que ela tinha alguma razão quando foi cruel com filha.
Mas não se enganem meus amigos, Marta estava preocupada apenas com o dinheiro que ela havia perdido, ela se sentia afrontada pela mentira que a Nanda contou durante todos aqueles anos. Ela não estava preocupada com a filha, muito menos com as crianças que Nanda estava esperando.
Nunca antes tinha visto uma vilã psicopata tão bem construída como essa!
A síndrome de Down:
Manoel Carlos sempre abordando temas sociais em suas novelas. Em ''Páginas da Vida'' não foi diferente, aqui nós vamos acompanhar a trajetória de Clara, a filha da Nanda, que foi rejeitada pela avó por ser portadora da síndrome de Down. Ela foi adotada por Helena, que a criou com muito amor e dedicação.
Nós vemos ao longo da trama diversas cenas de intolerância por parte da população preconceituosa, que trata Clarinha como se ela fosse incapaz: Helena lutou com unhas e garras para defender a filha de todas essas injustiças, demonstrando ser uma mulher de muita fibra.
Clara sofreu muitos preconceitos até na escola, onde uma professora a tratava diferente dos outros colegas, impedia a menina de fazer as atividades juntos dos outros alunos por achar que a menina seria incapaz de realizar as lições escolares. Quando Helena descobriu não deixou isso barato, tratou logo de denunciar a professora para as autoridades.
Clara encantou o publico e é lembrada até hoje por sua frase marcante - ''moça munita'', ela dizia isso sempre que via o espirito de Nanda.
A ultima grande novela de Manoel Carlos
''Páginas da Vida'' foi um grande sucesso de audiência, (por incrível que pareça deu mais audiência que Por Amor, Laços de Família e Mulheres Apaixonadas), apesar das controvérsias, é considerada o ultimo grande trabalho do autor, que viria a decepcionar o publico anos depois com as insossas Viver a Vida e Em Família.
Pontos negativos:
Lentidão
A novela sofreu muitas criticas por seu ritmo lendo e arrastado. Já nessa época Manoel Carlos demonstrava esgotamento criativo: infelizmente o autor pecou em demorar muito com certos acontecimentos da trama, alguns capítulos eram monótonos demais, não acontecia nada de importante na narrativa em muitos momentos. Poderia ter feito melhor.
Excesso de tramas e subtramas
Essa novela teve muitos personagens sem função que só apareciam para preencher capítulos. Não era tão perceptível na primeira fase, quando o foco da história era a Nanda, mas já no inicio da segunda fase podemos notar um excesso desnecessário de personagens. Era muita gente disputando espaço, essas pessoas não tinha muita personalidade nem agregavam a novela, mas estavam ali por algum motivo. Boa parte do elenco reclamou com o autor por não terem destaque na trama, alguns até ameaçaram abandonar a produção, também pudera, Maneco convidou um elenco de peso, e deu a eles personagens coadjuvantes que estavam ali apenas por estar. Era difícil lembrar o nome de todo mundo.
Helena quem?
Em sua terceira Helena, a saudosa Regina Duarte voltava ao horário nobre com grande expectativa.
Infelizmente a personagem não era tão legal, após adotar a menina Clara, Helena ficou sem função no enredo da novela. Ela tinha o dever de defender a filha portadora da síndrome de Down contra o preconceito da sociedade, foi uma boa abordagem, mas isso cansou e acabou ficando de lado.
Quando Léo voltou ao Brasil querendo a guarda da filha ela lutou bravamente para ficar com a menina, foi uma trama interessante, mas a essa altura já era tarde demais para a personagem. Em alguns capítulos ela nem aparecia. Helena não honrou o titulo de ''protagonista''.
Abertura esquecível
As direção de arte nas novelas de Manoel Carlos costumavam dar um show de criatividade: se em Mulheres Apaixonadas nós tínhamos o que podia ser a melhor abertura da década, (vinheta simples, mas cheia de conceito), em ''Páginas da vida'' éramos castigados com uma péssima abertura, que consistia numa folha sendo levada pelo vento pela cidade do Rio de Janeiro, ao som de uma Bossa-Nova: ao fundo víamos pessoas aleatórias passeando com a família e amigos.
Foi difícil aguentar essa abertura por pouco mais de duzentos capítulos, as paisagens mostradas na vinheta não eram tão marcantes quanto as que foram mostradas em Laços de Família, por exemplo.
Ao fundo podíamos ouvir um instrumental de ''Wave',' grande sucesso de Tom Jobim, mas a música invés de emocionar o telespectador, acabou dando sono em todo mundo.
Autor e diretor: lentidão por todos os lados
Como foi dito anteriormente, a direção lenta de Jayme Monjardim não casou com o texto cotidiano de Manoel Carlos: o autor escrevia cenas recheadas de bons conflitos familiares que podiam despertar interesse do publico, mas o diretor da novela pecou em não colocar um bom instrumental nessas cenas, esses momentos podiam ter sido mais intensos, mas acabaram passando batido aos olhos de quem via a novela. A direção equivocada estragou o que podia ser uma das melhores novelas do Maneco.
considerações finais:
A novela ''Páginas da vida'' possuí uma das tramas mais complexas da teledramaturgia brasileira, por este motivo, considero essa novela a mais criativa de Manoel Carlos (porém, está longe de ser a melhor), confesso que tive certa dificuldade em explicar o enredo dessa trama, por tamanha complexidade. Maneco criou um emaranhado de situações cotidianas para compor a novela, no fim acabou criando um monstro.
Seria impossível falar sobre tudo que envolve o enredo dessa novela, ficaria um texto enorme e cansativo, (acredito que exagerei nesse monologo aqui, mesmo deixando de fora vários outros detalhes da novela). dito isso, encerro essa resenha, agradeço a todos que leram até aqui.
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