1) John Carver jamais imaginou que viveria uma experiência daquela magnitude. Em quase 10 anos explorando tantas cavernas ao redor do mundo, aquela em específico, era a mais interessante de todas.
Sua estrutura era feita de enormes cristais brancos e afiados, que cercavam toda a parte superior e produziam uma cobertura quase que completa das rochas. A visão era de um enorme tapete branco cobrindo boa parte da caverna, iluminado timidamente pela pouca luz que ainda entrava pela porta da caverna, mas que facilmente era limada pela escuridão. E mesmo John estando ainda na entrada, o breu já dominava quase que por completo. Criando assim uma das melhores paisagens que ele já vira. Foi uma pena ele ter se esquecido de trazer a máquina fotográfica para aquela expedição. E estando tão longe da civilização, não poderia de maneira nenhuma voltar até a cidade só para comprar uma nova. Ele certamente perderia a viagem, e provavelmente seria difícil encontrar novamente aquela mesma caverna.
– considerando que essa belezinha não tenha sido mapeada por alguém que esteve aqui antes de mim – ele disse, ainda olhando para cima, fascinado, pois não queria perder nenhum detalhe.
Sua mochila estava bastante pesada. Em sua cintura havia um cinto grosso com lanternas e algumas ferramentas de pequeno porte. Carregava consigo alguns mantimentos e também várias pílulas medicinais. Ele sempre tinha em mãos uma quantidade exorbitante de suprimentos, tudo que fosse essencial para fazer uma exploração como aquela com segurança. Lembrou-se de uma velha frase que seu pai, também explorador, costumava lhe dizer quando ele ainda era um moleque.
– "O seguro morreu de velho, John. Nunca deixe de fazer o que é certo!" – Ele repetiu aquelas palavras fazendo uma voz grossa, porém anasalada, exatamente como ele costumava fazer; e ficou ouvindo sua própria voz sendo replicada pelos ecos caverna. Um eco que se repetia assustadoramente por entre a extensão cavernosa do local. Parecia que, de alguma forma, os cristais brancos ajudavam a espalhar suas palavras pelo maior tempo possível. Ele podia jurar que sua voz foi ficando bem mais alta, conforme foi atingindo a parte superior da caverna. Mais alta, antes de ficar mais baixa.
Depois de um tempo, finalmente suas palavras foram perdendo o significado lógico da frase. Ela ainda estava se repetindo bastante, mas sem ter nenhuma coerência. Aos ouvidos de John, na profunda escuridão daquela caverna, sua própria voz, agora, parecia mais um grito de desespero.
2) Ele foi andando na direção da primeira passagem que encontrou. Era estreita, mas não muito extensa. Dava para ver que ao final daquele caminho tinha uma abertura bastante significativa que ele poderia facilmente usar para sair em um novo local. Era seguro. E ele finalmente iria conhecer outras partes inexploradas do lugar.
Primeiro, colocou a mochila na parte da frente de seu corpo, e logo em seguida agachou-se a fim de ficar mais próximo da passagem. Foi se arrastando pelo buraco lentamente, com cuidado para não se cortar numa das pedras que estavam jogadas pelo chão. Sempre empurrando a mochila a sua frente. E logo em seguida empurrando seu próprio corpo, espremendo-se contra as paredes estreitas da passagem. Assim ele avançava pela extensão, como uma minhoca faz debaixo da terra, contorcendo-se toda para se locomover. Sentiu algumas pedras perfurando-lhe o peitoral; pôde sentir o cheiro e o gosto da terra úmida invadindo a boca e o nariz; e sentia também, com certo fascínio, a vivacidade da própria caverna, através de suas paredes, parecia ter algo vivo e pulsando lá dentro. Algo convidando John para entra cada vez mais fundo em seu abismo, muito mais fundo.
Quando finalmente alcançou o final dessa primeira passagem, com muito esforço, mas também com muita ansiedade, estava cansado e ofegante. Percebeu que ao chegar na boca da saída as paredes foram ficando cada vez mais largas, o possibilitando sair com certa facilidade daquele primeiro túnel.
O novo local era bastante espaçado. Estava escuro demais, mas em seu capacete de segurança havia uma lanterna bastante potente que iluminava seu caminho (e boa parte de seu trajeto), isso possibilitou uma visão bastante clara daquela parte da caverna. Era uma espaço maior que o anterior. Bastante amplo, possibilidade uma mobilidade quase que completa sem a necessidade de ficar se espremendo entre pedras e paredes para se locomover. John suspirou aliviado, pois a caverna era enorme e ele teria bastante área para explorar. Havia mais daqueles cristais brancos que ele tinha visto na entrada, mas agora eram centenas deles, de todos os tamanhos e espessuras. John sabia que eles não valiam muita coisa, mas ainda assim eram belíssimos, e dinheiro nenhum no mundo poderia comprar a experiência que ele estava tendo naquele momento.
Pegou seu canivete de estimação e começou a serrar a ponta de um dos cristais. Queria levar um pedaço de recordação. Era duro como uma rocha, mas de tanto fazer o movimento de ida e volta com o fio cortante do canivete, uma lasquinha do tamanho de uma pedra caiu em sua mão direita. Brilhante e pequenino, semelhante a um diamante.
– "Água mole em pedra dura...," – Disse ele, assustando-se com a potência que sua voz tinha naquele lugar – um dia você estará no anel de compromisso que darei a minha namorada.
E novamente sua voz fez um eco inacreditável, que ficou repetindo as mesmas sílabas várias vezes. Que resultou nas mesmas palavras, de novo, de novo, e de novo..., e ela foi afastando-se na direção da escuridão. Indo para o além, até desaparecer por completo. John questionou se ela de fato iria desaparecer; poderia simplesmente ficar eternamente ecoando sobre as paredes úmidas da caverna, eternamente.
Era um pouco assustador escutar a própria voz sendo reproduzida naquela escuridão. Estando ele ali sozinho, era como se mais alguém estivesse naquele lugar. Várias outras "pessoas" (ou talvez fossem criaturas de outros mundos) que poderiam estar na penumbra o observando. E também reproduzindo as mesmas coisas que ele falava, de um jeito macabro e fantasmagórico, como se fossem macaquinhos de imitação.
Ele suspirou. Olhou em volta, utilizando a pouca luz que tinha para se certificar de que não havia mais ninguém ali. E disse a si mesmo para não falar mais nenhuma palavra, a fim de evitar novos sustos como aquele.
John guardou o cristal em sua mochila. Era um bolso pequeno, porém seguro. Não queria de maneira alguma perder o cristal de sua namorada. Logo em seguida foi caminhando com cuidado pelo local, a procura de uma nova passagem.
3) Ele andou por cerca de cinco minutos, viu outros cristais, algumas aranhas e outros animais, mas nada que chamasse sua atenção. Bom mesmo seria encontrar um pouco de aguá, descendo pelas fendas das rochas, formando um lago ou lamaçal, que talvez o levasse a alguma cachoeira ou coisa assim. Ele podia jurar que estava escutando o barulho da correnteza. Certamente havia aguá, em algum lugar daquela imensidão negra.
Caminhou durante cinco minutos, até encontrar um novo caminho. Esse, porém, era mais estreito que o anterior. E mesmo utilizando sua lanterna, John não conseguia ver o final daquele túnel. Isso significava que, se ele entrasse ali, seria um caminho totalmente incerto, poderia simplesmente ser um túnel infinito, ou então uma passagem sem saída; talvez o levasse para um outra parte da caverna mais interessante que a atual; ou talvez o levasse para lugar nenhum. John não sabia. E considerando que aquela caverna ainda não tinha sido mapeada por outra pessoa, ninguém devia saber.
Diferente do buraco anterior que ficava entre uma parede e outra, esse era diferente, pois ficava direcionado para o chão da caverna. Era da espessura de um cano bem grosso. E um pouco inclinado para esquerda. Para entrar ali John teria que se espremer muito, seria difícil, mas não impossível.
Ele pensou por alguns minutos se valia a pena correr o risco. ''Entrar ou não entrar?''. Porem, a questão principal era que ele não queria de jeito nenhum dar meia volta e ir embora, pois isso seria perder a viagem. Um enorme desperdício de tempo e equipamento.
A terceira opção seria procurar outra passagem que fosse mais segura que aquela, assim ele não ficaria tão inseguro e nem precisaria ir embora da caverna.
John começou a procurar um novo túnel além daquele. Era um local bastante amplo, escuro e úmido. Com muitas rochas por toda parte, mas aparentemente, sem nenhuma outra passagem.
Ele estava num impasse terrível. E com muito pesar em seu coração, achou que acabaria entrando na passagem misteriosa mais cedo ou mais tarde. Bastaria acumular um pouco mais de coragem. Teria que renunciar a seu próprio bom senso, e esquecer tudo o que seu pai havia lhe ensinado até então. Ele sempre lhe disse que "o seguro morreu de velho", ou seja, na sabedoria, tomam-se precauções para evitar surpresas desagradáveis.
A memória de seu pai lhe diz para não entrar naquele abismo misterioso; e John acaba achando melhor seguir seu conselho, por mais que a tentação de saber onde aquela passagem dará fosse muito grande, pois certamente encontraria a fonte que estivera procurando.
Mas seu bom senso falou mais alto.
Por enquanto...
4) Quando estava prestes a ir embora e desistir de vez da ideia de explorar o local, aconteceu uma coisa que paralisou a espinha de John dos pés a cabeça. Seu sangue ficou gelado e seu coração parou por alguns minutos.
Ele escutou, de maneira muito clara, uma voz em tom de eco o chamando através daquele abismo misterioso.
– Oláaa... Tem alguém aí? – Disse a voz. Era masculina, e parecia ser de uma pessoa bastante debilitada. Falava não muito rápido, com muito espaço de tempo entre uma parada e outra, para ter certeza de que seria ouvida.
John ficou pálido. Totalmente paralisado. E não pôde mexer-se durante alguns segundos. Nem mesmo conseguia responder à voz que lhe chamava. Achou que poderia ser algum fantasma de outra mundo que apareceu para assombrá-lo, ou algo assim.
– Ah, cara. Eu preciso de ajuda. Estou preso aqui! – ecoando bastante, e sendo repelida pela escuridão de maneira grave, a voz novamente chegou aos ouvidos de John – Estou preso! Preso!
A palavra "preso" se repetiu por diversas vezes. E mesmo depois que o eco parou, John achou que ainda podia ouvi-la se repetindo em sua cabeça. Ele ficou confuso sobre a origem da voz, que parecia sim estar saindo da passagem, mas que também parecia estar vindo de todos os lugares ao mesmo tempo. Era a sonoridade da caverna lhe pregando algumas peças.
Passou o choque inicial. Ele entendeu que não se tratava de uma assombração, afinal, e sim de uma pessoa. Algum explorador igual a ele, que entrou na passagem estreita e ficou preso, provavelmente entre uma parede e outra. Isso não era nada bom, pra falar a verdade, era ruim, muito ruim.
– Como é seu nome, meu chapa? – John falou, com voz ponderada para não ter muito eco.
Nenhuma resposta. Nada além do silêncio cavernoso. E por mais que John já tenha entendido que se tratava de outra pessoa, ele não pôde evitar de sentir medo. Um medo quase que paralisante.
Ele estava agachado entre os joelhos e olhando na direção do buraco. Sua lanterna produzia luz suficiente para iluminar a escuridão a sua volta, mas não para iluminar o que havia para além daquele pequeno abismo. Se realmente havia alguma pessoa presa naquela caverna, john não podia vê-la.
– Ei, cara, fala comigo. Quem é você e como você foi parar aí embaixo? – Ele perguntou. Dizendo para si mesmo que, se dessa vez não houvesse uma resposta, ele iria dar meia volta e correria para longe daquela caverna o mais depressa possível.
Mas houve uma resposta. Novamente ecoando e invadindo o lugar por completo, fantasmagoricamente, para fora e além.
– Eu... eu sou um explorar de cavernas – disse a voz, com bastante ênfase ao citar a caverna – entrei nesse buraco porque achei que fosse um novo caminho. Mas na verdade é uma passagem sem fim. Foi ficando cada vez mais apertado. Até que fiquei preso. Não tem como voltar sozinho. Cara, pode me ajudar?
Bastante perplexo com aquela situação, John não sabia exatamente o que fazer; pensou em dar meia volta para chamar alguém, seria o mais lógico e é o mais recomendável a se fazer numa situação como essa; mas isso significava deixar aquela pessoa novamente sozinha na caverna, isso seria cruel e John sentiu uma pontada de pena em seu coração.
– Escuta, cara, eu preciso voltar até a cidade e chamar alguém para te ajudar. Está certo? Eu volto logo.
Silêncio. Nenhuma resposta. Havia uma pausa grande entre uma resposta e outra. Isso deixava John um pouco nervoso e assustado, pois a impressão que ele tinha era de que não estava falando com outro ser humano, e sim com uma espécie de fantasma que tinha problemas de comunicação.
John estava se inclinando na direção do buraco, apoiando-se nas duas mãos, para ter certeza de que estava sendo ouvido.
– Você me entendeu?
– ...
– Ouça cara, fale comigo ou eu não poderei te ajudar.
– Puxe meus pés. Eu estou de cabeça para baixo, e meus pés estão mais próximos da saída. Você pode puxá-los. É isso que os socorristas irão fazer. Mas você pode fazê-lo agora mesmo, e me tirar desse tormento o quanto antes.
John pensou por alguns instantes.
- Mas para fazer isso eu teria que me enfiar nesse buraco. Quem me garante que também não ficarei preso aí dentro?
- Puxe meus pés - a voz repetiu - Estou de cabeça para baixo! Ah, cara, acho que vou vomitar...
- Ok, acalme-se, eu vou tentar puxar seus pés, farei o possível para tirar você desse lugar. Mas se não for possível, eu irei direto atrás dos socorristas, está bem?
- ...
- Deixarei você sozinho por alguns instantes. Mas, nesse caso, não teríamos outra alternativa.
- Tire-me daqui - agora, o rapaz parecia estar chorando, mas a sonoridade da caverna estava distorcendo muito de tudo o que estava sendo falado, o que impossibilitou fazer o reconhecimento da voz, mas se john tivesse prestado um pouco mais de atenção, teria percebido que a voz lhe era estranhamente familiar - estou de cabeça para baixo e minha cabeça está fervendo!
5) John suspirou profundamente. Estava sentindo um misto de sensações negativas, primeiro que depois de muito tempo finalmente ele estava fazendo uma nova exploração, da mesma maneira que fazia com seu pai quando era pequeno. Mas encontrar esse cidadão preso naquele abismo havia estragado tudo, e todo seu planejamento tinha sido jogado fora naquele momento; segundo, e não menos importante, seria uma verdadeira loucura arriscar sua própria vida para salvar a vida de uma pessoa estranha, que ele nem mesma conhecia. E para falar a verdade, ele ainda não tinha certeza se essa pessoa era mesmo real ou se era uma alucinação da sua cabeça.
Mas, a contra-gosto, estava convencido de que iria tentar ao menos puxar os pés do rapaz, não tinha certeza se conseguiria libertá-lo daquela prisão, mas ainda assim poderia tentar tranquilizá-lo ao menos um pouco. John sabia que o desespero nessas horas acaba batendo, e ele poderia ter algum tipo de ataque de panico. Caso aconteça, o rapaz certamente teria taquicardia, e uma enorme dificuldade de respirar. Nada legal.
- Eu vou entrar, cara. Continue falando comigo enquanto eu vou tentando chegar até você. Eu preciso saber que você está bem, entendeu?
- ...
- Você entendeu?
- Ah, estou com uma enorme dor no peito!
- Sim, sim. Eu sei. Estou chegando.
Agora, havia uma confusão enorme de vozes no local. Muitos ecos. Muitas repetições. John estava ficando assustado e com dor de cabeça;
Largou a mochila no chão. Mas antes pegou uma garrafa d'água e algumas barrinhas de cereal. Firmou a fivela de seu capacete, pois precisaria de toda luz que fosse possível e numa situação como esse aquela lanterna em sua cabeça era a melhor opção. Tinha em sua cintura uma corda de madeira que usaria para amarrar o corpo do rapaz em seu próprio corpo, e tentaria puxá-lo usando toda sua força. Puxar seu corpo inteiro, não somente seus pés. Mas para fazer isso, primeiro ele teria de entrar no abismo.
Ele suspirou novamente e se preparou para adentrar na escuridão.
- ''O seguro morreu de velho, john. Nunca deixe de fazer o que é certo!'' - Repetiu as mesmas palavras de seu pai como se fossem um mantra. Ignorando o fato de que, ele agora mesmo não estava exatamente seguindo o conselho de seu pai, que era sobre tomar cuidado e ser responsável acima de qualquer coisa. Ele, estava se enfiando num local desconhecido para salvar a vida de alguém igualmente desconhecido, mesmo sem ter tido treinamento especial para isso.
Pessoas como John morrem todos os dias. Mas não de velhice.
Ele entrou. De cabeça, pois queria ver para onde estava indo. A escuridão foi preenchida pela luz produzida pela lanterna de John, tudo o que ele enxergava eram pedras, musgo e argila, algumas teias de aranhas e muita umidade. Era um caminho estreito, complexo, traiçoeiro. John era um homem grande, e para se locomover com exatidão ele precisava se espremer bastante em certo pontos da caverna. Agora, ele estava entendendo o porquê do rapaz ter ficado preso naquele lugar. A cada nova direção, o caminho ficava cada vez mais apertado. Mais estreito, e mais escuro, por mais que sua lanterna eliminava boa parte dessa escuridão, ainda não era suficiente.
- Tudo bem, cara, estou aqui! Tentarei chegar até você!
- Ótimo. Você trouxe água? Estou com sede!
- Sim. Tenho uma garrafa e uma corda, que vou amarrar em sua cintura e tentar puxar você usando o peso do meu próprio corpo. Acho que pode dar certo. Acho mesmo!
- Ótimo, cara. Eu realmente quero sair daqui...,
O que ele não percebeu, talvez pela excitação do momento, é que a voz já não estava mais vindo oposta. Mas sim do lado contrário. Era uma confusão de sons ali dentro, e John não foi capaz de identificar sua origem.
Chegou a um ponto onde seu corpo já não conseguia avançar mais, pois estava ficando aperto até o limite, e seu peito foi sendo pressionado contra o chão pedregoso da passagem. Estava doendo, e era muito desconfortável ficar naquela posição. Mas ainda assim ele continuou pressionando o próprio corpo mais e mais afundo no abismo, pois imaginou que o caminho fosse ficar um pouco mais acessível mais a frente, antes de ficar apertado novamente. Pela lógica, um homem adulto havia passado por ali, ficou preso logo adiante, sim, mas antes disso ele teve uma liberdade de se locomover tanto ao ponto de avançar muito mais para dentro do buraco. John tentava ver os pés daquela outra pessoa, olhava para frente a procura de algo que não seja apenas pedras e musgo. Mas nada conseguia enxergar.
''Como é possível que aquele rapaz tenha ido tão longe?'' ele pensou ''Eu mal consigo respirar nesse ponto que já estou.''
- Ei, cara, eu já entrei bastante e parece que ainda nem estou perto de chegar até você. O que acha disso, hein?
- ...
6) Não houve resposta, durante muito e muito tempo. Novamente, John estava sentindo aquela nítida sensação de que estivera o tempo todo falando sozinho naquela caverna. Nunca houve outra pessoa. Ao menos, não naquele mesmo plano físico. E, ao pensar no assunto, percebeu que em nenhum momento o rapaz lhe disse seu nome, de onde veio e o porquê dele estar naquela caverna, exatamente.
Sem muitas informações, ele simplesmente se enfiou num buraco desconhecido, para ajudar alguém que poderia nem mesmo estar ali, de fato.
'', mas então, por que escutei sua voz?'' - Ele se perguntou.
''Porque era sua própria mente tentando lhe pregar uma peça, John. - a voz de seu pai lhe respondeu, falando mais alto do que nunca. Naquela caverna, todas as vozes pareciam falar alto demais.
Estava preso. Pensou em dar meia volta antes que fosse tarde demais. Mas, percebeu logo que não dava mais para voltar para trás, pois o caminho era estreito, e ele entrou de cabeça. Logo, suas pernas estavam obstruindo a passagem contrária, enquanto que, naquela posição, ele estava quase que de cabeça para baixo, e seu peito foi sendo gradualmente prensado contra o chão, o fazendo sentir falta de ar e até um pouco de taquicardia; passou pela sua cabeça que a única solução seria continuar se espremendo e se arrastando para frente, pois é provável que a passagem fique um pouco mais larga, assim que esse caminho mais estreito chegasse ao fim.
- Ei, Cara! - Ele gritou - Você está bem?
Nada. Somente o eco de sua própria voz.
- Eu não consigo voltar. Está apertado demais para mim. Terei de ir para frente tentar uma nova saída, certo?
''Mas o que faria ao chegar mais a frente, quando (e se) encontrasse o corpo de seu colega de expedição?'' Os dois estariam em um empasse, com a passagem obstruída, e sem conseguir voltar para o caminho original. John percebeu, naquele momento, que havia se metido numa enrascada dos diabos.
7) Na entrada daquela passagem, onde John havia largado no chão todas as suas coisas, através do cristal branco que ele havia deixado dentro de sua mochila, uma voz implora pedindo por clemência:
– Ah, cara. Eu preciso de ajuda. Estou preso aqui! – ecoando bastante, e sendo repelida pela escuridão de maneira grave, mas, dessa vez, a voz não chegou aos ouvidos de John, ela ficou repetindo as mesmas palavras durante muito e muito tempo, esperando ser ouvida – Estou preso! Preso!
Mas agora John estava muito distante. Longe demais para escutar seu próprio pedido de socorro.
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