Conversa fiada não tem fio - Conto

Tang
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 “Essa é a história de como desaprendi a falar…”

Embora, essa não seja uma verdade absoluta. Ainda consigo mensurar palavras se for necessário. E posso ter uma boa e longa prosa com alguns seres pensantes, caso eles ainda consigam usurpar minha atenção em uma simples conversa. Mas, afirmo que essa conversa só teria valor caso ela tenha o fio regente que faz a ligação entre nossa realidade e o universo como o conhecemos. Esse fio é o que vai determinar se essa conversa terá valor no futuro ou se será apenas conversa fiada jogada ao vento. Conversas nessa qualidade não possuem valor e quando acontece dela ser jogada ao universo, ele prontamente a devolverá. Tudo o que foi dito será cobrado. Portanto, cuidado com as palavras mensuradas por sua boca, sejam elas positivas ou negativas, porque o universo está recebendo tudo o que está sendo dito e isso lhe será cobrado.
Dito isso, entenda que não existe uma compreensão exata de suas palavras, nosso alfabeto (como também seu entendimento) foi criado por mãos humanas e o universo não poderia compreendê-lo, ainda que possa. Suas palavras vibram na frequência da sua intenção, portanto, é a vibração do que foi dito que é recebido pelo universo, através do fio regente que faz essa ponte de conexão. É essa vibração que lhe será devolvida. Conversa inútil ficaria pelo dito não dito, embora, ainda tenha seu peso em ações, através da vibração. Mas nessa balança, o peso só valerá para você, pois na imensidão do universo, suas palavras inúteis não teriam força suficiente para prejudicá-lo de qualquer forma. Toda palavra (em forma bruta de vibração) lhe será ricocheteada e a consequência de seu entendimento virá na intenção de ajudá-lo ou prejudicá-lo, dependeria tão somente do que foi dito.
Nem sempre tive essa visão em relação às palavras, já fui cego e há muito dizia uma quantidade enorme de baboseiras que eram lançadas ao universo, criando um verdadeiro entrevero de negatividade e baixa vibração. Que só me prejudicavam. Hoje, entendo o peso de minhas palavras e falo muito pouco, com receio de que minhas palavras sejam só uma conversa fiada, ou que não tenham fio, ou as duas coisas.
Pense que o universo apenas devolve o que recebe; e agora faça uma análise, juízo de valor, em relação ao que você está lhe oferecendo. Se o que você recebe não está de seu agrado, é porque muito provavelmente, em relação a sua oferenda, a recíproca seja verdadeira, sua vibração está baixa e negativa. Mas é difícil entender minhas palavras (palavras escritas, não ditas) porque mesmo quando você pode achar que está vibrando alto, positivo, talvez não seja essa a verdadeira natureza da sua vibração. Lembro-me de quando era jovem, tinha um emprego medíocre, mas que me servia muito bem naquela situação, o problema é que a minha natureza era grandiosa demais para atividades tão pequenas e eu queria mais. Queria melhor. Minhas palavras foram ''sairei daqui na primeira oportunidade''. Diante de uma vibração tão petulante, o universo me devolveu esse tapa, criando uma situação catártica que resultou no meu desligamento da empresa. Ali estava eu, jovem e sem emprego, hoje, no presente futuro da minha existência (mas que será passado quando você estiver lendo essa carta), sei que foi a melhor decisão e a melhor coisa que poderia ter me acontecido, consegui empregos melhores, oportunidades melhores e estou melhor do que nunca estive, embora, não esteja melhor do que ainda estarei, mas naquele momento de ''perda'' (que um dia já foi meu presente) acreditei que minha vida havia terminado. Não eramos ricos, aliás, muito pelo contrário, então meu ordenado fez muita falta. Achei que talvez fosse melhor estar morto do que passar por qualquer tipo de dificuldade financeira e moral (ainda acho) então me vi sem saída naquela situação. Como um camundongo, que está preso no labirinto e não consegue escapar. Hoje tenho em mente que por mais que pareça o contrário, todos esses problemas são minúsculos e agora, nesse momento da minha vida, em nada me afetam, mas naquela época, que hoje só existe tão quanto na minha imaginação, eles todos me pareciam gigantescos, monstros prestes a me engolir.
Hoje vejo que eu não passava de uma criança perdida no mundo, sem saber o que fazer e como fazer qualquer coisa. E sem ninguém nunca ter me ensinado a lição. Hoje perdoou todos os meus supostos erros, pois, eles eram inevitáveis naquele contexto e só aconteceram tão somente para que eu obtivesse um certo crescimento intelectual, como também espiritual. Mas foram aquelas palavras, tão simples e cheias de boas intenções, que causaram toda aquela situação, toda a minha agonia e incerteza de um futuro brilhante, ''sairei daqui na primeira oportunidade''. Foi dito e feito. E isso foi bom?
Aqui no futuro, digo que sim. Lá naquele meu presente, quem sabe?
Talvez minha resposta fosse uma negativa. Mas se nada daquilo tivesse me acontecido, onde exatamente eu estaria agora?

Não ficamos no âmbito do talvez, pois eu de fato disse com todas as letras que ''não'', não havia sido uma decisão acertada. Na imensidão da minha ignorância, tudo o que eu podia fazer é ficar me lamentado pelo que eu havia perdido. Ao invés de viver a expectativa de esperar pelo novo que me aguardava no futuro próximo (que hoje é meu presente) e que certamente será meu passado tão somente que passem alguns segundos após a vibração dessas palavras serem concluídas. O que estou querendo dizer é que a baixa vibração da negativa me prejudicou de certa forma e hoje percebo certos resquícios dessa consequência. Um dia acreditei que a perca era definitiva e foi nessa vibração que vivi durante certo tempo. Eu tinha toda razão, foi definitivo, nunca mais retornei para aquele trabalho medíocre.
Mas em que mundo isso é uma coisa ruim? Eu me pergunto.
A resposta para isso é que em nenhum mundo, de nenhuma existência, isso foi ruim. Deixar de ser medíocre era exatamente o que eu desejava e foi isso que recebi do universo.
''Desejo realizado. Chumbo trocado''.
Lembro-me bem da sensação de estar perdido no mundo, sem saber o que fazer ou para onde ir: eu não poderia retornar a qualquer outro trabalho, ainda que fosse necessário, se o lugar ou as atividades feitas por mim fossem igualmente medíocres, exatamente como foi o anterior. Isso seria andar para trás e não era isso o que eu almejava fazer naquele momento. Eu queria evolução e não regressão. Quando o individuo está assim perdido, na confusão da própria existência, ele busca no espiritual o que não encontra no material. E foi exatamente o que fiz. Por meio de uma medicina sagrada pude entrar em contato com o universo diretamente e sem intermediários. Nossa prosa foi altamente produtiva, embora eu não tenha tido todas as respostas que buscava naquele momento. Isso porque as respostas para minhas dúvidas estavam no futuro e não no passado. ''Onde estou se não no presente?'', estou aqui no futuro, enquanto vos escrevo essa epístola. Mas não é futuro para mim, é futuro para o meu EU de anos atrás, que buscava saber mais sobre a própria existência e na maioria das vezes frustrava-se por não receber as respostas referente as suas indagações.
''O que estou fazendo aqui?'', perguntava eu, e hoje digo com toda propriedade que há um aprendizado para cada espírito vivente na terra e no universo. Seu aprendizado, meu jovem, foi referente a libertação do próprio individuo enquanto espécie ''livre'', se teu primeiro emprego não era assim tão terrível, por qual razão você viveu aqueles dias de agonia antes de sair daquele ambiente em busca de novas oportunidades?
Oras, será que não percebe a obviedade do fato?
Estás buscando pela liberdade do corpo. Mas também da mente, é só para isso que viestes ao mundo. É isso que estás fazendo na terra e assim será pelo resto de seus dias. O que atrapalha essa experiencia exponencial sempre foi sua língua afiada no que se refere a proferir palavras negativas sobre si próprio. Perdeu sua única fonte de renda (até então) por falar demais. O fio regente ricocheteou com tamanha força que foi capaz de quebrar o laço que te mantinha naquele cabresto. Posso ver com muita clareza como isso funciona no universo — seu universo — em um lugar que está um pouco além da imaginação, mas nem tão no ''além'' assim, que você tinha acesso mesmo sem saber, sem desejar, mas quando isso foi descoberto usou a seu favor.
Um cérebro todo feito de vibrações, das mais variadas formas, abstratas, fragmentadas, mas também coerentes dentro de sua própria natureza. Ele é vermelho, mas também é azul e verde. Ele tem todas as cores e elas vibram. Há fios vermelhos vibrantes diretamente ligados a essa mente e esses fios se estendem para além do que posso ver, para além daquele plano, daquela dimensão. Se perdem na escuridão, se conectam com a realidade como a conhecemos, eles fazem uma ponte entre a primeira e a quarta dimensão. A linha da liberdade lúdica, aquela que só existe no futuro hipotético — Meu presente, seu futuro — soltou-se do cérebro momentaneamente e como um chicote arrebatou a linha do cabresto com tamanha força que teve o poder de desconectá-lo do cérebro vibrante. E o cabresto perdeu sua conexão. A linha da liberdade lúdica voltou para seu lugar. Esse movimento originou-se quando fui capaz de dizer aquelas palavras, desejando sair do cabresto. Foi dito e feito. O fio daquelas minhas palavras era o da liberdade lúdica, a liberdade que só existe no futuro, e talvez por isso, eu esteja sempre correndo atrás dela.

Considero-me um bruxo das letras, mago das palavras, nada do que digo se traduz como dito pelo não dito, de minha boca jamais sairá um impropério inútil contra mim mesmo. Mas contra alguém, quem sabe?
Feitiço do tempo, capaz de alterar a realidade, de fazer acontecer o impossível, tão real para mim que hoje quase sou capaz de escutar o fio regente de minhas palavras sendo rasgado no céu, como uma enorme onda vibracional atravessando o espaço-tempo bem acima da minha cabeça. Estou falando contigo do futuro para o passado, quando o mais natural seria que a mensagem viesse de você para mim. Mas poderia você ensinar-me qualquer coisa? Acredito que não, pois tudo o que tu sabes, eu também soube um dia e ainda sei, embora tenha aprendido várias outras coisas e sobre quase tudo, tenho uma outra opinião. Conversa fiada para mim é como uma maldição, tenho medo de dizer qualquer coisa que possa chicotear o fio regente errado em minha mente alterando a minha realidade contra mim. Mas esse receio só existe até a pagina dois, pois escrevo para ti de minha casa nas montanhas, estou nesse momento tomando uma xícara de chá quente e comendo uma torrada com uma fatia de queijo derretida em cima. Chegou o inverno e a neve está caindo lá fora, mas aqui em meu casebre está quente e agradável. Estou fazendo exatamente o que desejei fazer há anos atrás. Não sei de qual forma essa carta chegará até você, pois mesmo aqui no futuro ainda não existe nenhum método de comunicação que possa enviar mensagens a alguém no passado, pelo menos, não através da tecnologia dos homens.
Mas se pude eu um dia manipular meu futuro através de minhas palavras, por que não poderia eu manipular meu passado utilizando do mesmo método?
Não há nada que eu não possa fazer. Tudo o que desejo, eu tenho, e no momento, estou desejando que você receba essa mensagem. E pode ter certeza, nada do que eu disse aqui é conversa fiada, tudo o que foi escrito nessa carta tem um fio; é através desse fio que faremos conexão, você no passado e eu no futuro (meu presente, seu presente), mas é uma só mente e a imaginação transcende o tempo e espaço.
''O que está fazendo, meu garoto?''
Ah, sim, você também tem seu chá. E o beberá para meditar a mente de tal forma que a nossa conexão ficará muito mais forte e profunda. É uma medicina sagrada, feita para trabalhar a introspecção do indivíduo. É disso que você precisa, ou acha que precisa, não importa. Se você for fundo o bastante me encontrará e assim poderei dizer-lhe todas as coisas que precisam ser ditas. Oras, estou nesse momento escrevendo essa carta com o exato mesmo propósito. De alguma forma nossas ideias acabam por ser as mesmas ou muito semelhantes, por mais que sejamos diferentes enquanto pessoas. Você é muito jovem e eu sou mais velho, você tem 23 anos e eu tenho todos os anos possíveis. Se alguém nos olhasse assim de muito longe, enquanto estamos dando esse nosso passeio, acharia que somos pai e filho. E para falar a verdade é assim que me sinto nesse momento, tenho certeza que você também compartilha do mesmo sentimento. Pegarei em sua mão e o levarei para o além de sua própria imaginação, preciso mostrar-lhe algumas coisas sobre si próprio que você sozinho seria incapaz de enxergar. E não o culpo, porque aqui do outro lado é tudo muito fragmentado, com muitas cores e vibrações, para mim é o natural, mas para você, filho, é como se fosse a casa dos horrores de um daqueles parques de diversão. E você assim, tão criança, acaba por sentir medo ao invés de divertir-se, mas iremos trabalhar isso, não iremos?
Vamos logo, tenho muita coisa para mostrar-lhe, para lhe contar, e nosso tempo é curto. Tenho todo o tempo do mundo, filho, mas você, só tem o tempo que lhe resta antes que o efeito de sua medicina acabe de vez. Mas fique tranquilho quanto a isso, pois chegará o dia em que tu seras a tua própria medicina e ela jamais acabará.
Caminhamos juntos, de mãos dadas, na ponte vermelha que faz a conexão com o infinito. Ela é vermelha, porque ela é o nosso fio regente e enquanto ela estiver aqui, nós estaremos.


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