Mestres do Horror e da fantasia - Resenhando Stephen King

Tang
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Introdução

A literatura de horror não é muito benquista no meio editorial. Vê-se que há uma certa relutância quando o assunto são livros de terror, porque muitas pessoas não acreditam que do terror possa vir algo profundo e minimamente coerente; e durante muitos e muitos anos autores de horror sofreram para vender seus livros, a exemplo de um dos maiores escritores da categoria, H.P Lovecraft passou fome em Province - pois, na época seus romances não eram levados a sério - e a estigma de que a literatura de horror jamais poderia dar certo no meio editorial perdurou durante várias décadas.

 

Stephen King foi muito importante para a cultura POP americana, e recebeu vários prêmios durante sua extensa carreira como escritor. Seus livros trazem monstros vindos do espaço; mansões mal-assombradas e até mesmo carros assassinos - que dirigem sozinhos pelas ruas e atropelam pessoas - mas, isso tudo é apenas uma roupagem para contar uma história muito mais complexa e coerente, suas tramas trazem também dramas humanos; exploram a maldade humana e mostra a todos que o ser humano é o pior monstro que existe nesse mundo. Ele quer nos dizer que não devemos ter medo do escuro, pois, a maldade humana é a pior entre todos os monstros.

 

Não demorou para que os editores admitissem que os livros de Stephen King não perdiam em nada para outros romances - de outras categorias - e a literatura de horror finalmente passou a ser valorizada no meio editorial.

 

Analisando algumas dessas obras, podemos perceber que, de fato, o horror é apenas uma roupagem que o autor usa para nos contar uma história sobre pessoas, sobre dramas e medos humanos, e como enfrentá-los. Sabendo que seus fãs querem mesmo histórias de terror e não dramas humanos, Stephen King nunca deixou de lado a natureza do horror, mas também jamais deixou de nos contar sobre os dramas da vida real e os desafios que todos nós enfrentamos, diariamente.

 

Vamos analisar algumas dessas obras.

 

As Quatro Estações (1984)


 

Quatro estações é o romance que traduz exatamente o que estou querendo dizer. King ficou estigmatizado como contador de histórias de horror - e os editores odiavam quando ele tentava escrever sobre outros assuntos. E seus fãs, vomitavam uma enxurrada de críticas - Sendo assim, ele desenvolveu certa relutância para escrever sobre outros assuntos. Mas isso mudou em 1984 quando ele decidiu escrever quatro histórias sobre dramas humanos; a busca pela liberdade; a psicopatia na adolescência; o espirito livre de quatro jovens; e por fim, uma história que fala da solidão na velhice. E, contrariando o que todos pensavam, as quatro histórias eram excelentes, e o livro acabou se tornando um de seus maiores sucessos.

 

Primavera Eterna - A redenção de Shawshank

 

''Um prisioneiro, condenado injustamente, procura uma estranha e chocante vingança...''

 

Aqui nós vemos o cotidiano de Andy Dufresne, condenado injustamente, acusado de ter assassinado sua ex-esposa e seu amante. Andy terá de enfrentar o desafio de conviver com uma profusão de homens criminosos. Sendo inocente, ele vai sofrer diversas perseguições em Shawshank; de um lado nós vemos os guardas da penitenciaria, que irão atormentar Andy todos os dias de sua condenação - por motivos que só eles podem entender - de outro, nós vemos as '''irmãs'' da penitenciaria, tarados sexuais que buscam saciar seus desejos reprimidos estuprando outros presos, principalmente aqueles que forem frágeis e tiverem uma boa aparência, como é o caso de Andy.

 

Ele vai se defender da melhor maneira possível. Mas ainda que ele consiga se manter longe de confusão, sua vida vai estar desgraçada do mesmo jeito, pois Andy não terá paz enquanto não provar sua inocência.

 

Nessa história, King explorou a busca exacerbada por liberdade. Ele nos mostra que a mente só aguenta o carcere privado até certo ponto antes de se deteriorar de vez, e no caso de Andy - estando ele preso, sendo inocente, sua mente pode não aguentar muito tempo. Ele terá um sonho de liberdade...

 

Verão da corrupção - Aluno Inteligente

 

''Um adolescente se torna a boneca, e ao mesmo tempo, a marionete mestre do demônio...''

Um aluno viciado em histórias da segunda guerra mundial encontra um velho rabugento que parece ter tido algum envolvimento com os nazistas. Dessa relação improvável, uma transformação acontecerá nos dois personagens.

 

O tema dessa história é a essência do mal. Aqui Stephen King vai questionar se nós já nascemos maus, ou se podemos nos tornas maus dado a certas circunstâncias da vida. Outra característica marcante em ''aluno inteligente'' é a abordagem da psicopatia na adolescência - Toddy é um típico garoto americano, tem aparência padrão, bom aluno e de família tradicional. Mas uma característica da sua personalidade vai desencadear uma série de acontecimentos que seria o estopim de sua história. Ele é viciado em histórias da segunda guerra; relatos de sobreviventes, reportagens contando os horrores do nazismo, e também grandes personalidades da ocasião. Ele então encontra um velho que se assemelha muito a um dos nazistas que ele viu numa foto; Dussander foi funcionário de Hitler em um dos campos de concentração.

 

Toddy vai chantagear Dussander e ameaçar contar sobre sua verdadeira identidade para as autoridades americanas, a condição para que ele fique de boca fechada é que ele lhe conte histórias sobre os campos de concentração nazistas.

 

A conclusão da história é obscura e sombria. King mostra que todos nós temos um lado negro em nossos corações, e que precisamos esconder nossos sentimentos ruins se queremos viver em sociedade. Mas e quando não conseguimos reprimir esses sentimentos? E quando nosso instinto assassino, predador, é maior que a nossa humanidade? Nos tornamos incapazes de viver sob as normas estabelecidas, e então nós entramos em colapso...

 

Outono da inocência - o Corpo

 

''Quatro jovens violentos penetram audaciosamente numa pequena cidade, e se defrontam cara a cara com a vida, a morte, e particularidades de suas próprias mortalidades...''

 

Stephen King sempre trabalhou muito bem com crianças, e aqui não é diferente. Quatro amigos decidem explorar os arredores da cidade em busca de um cadáver; é o corpo de um garoto que há muito falecera, o menino estava perdido na floresta e foi fatalmente atingido por um trem. Os boatos de que o corpo ainda estava apodrecendo perto dos trilhos correram pela cidade, e os quatro amigos decidem procurar o cadáver para então o entregar as autoridades.

 

Aqui o King faz um contraponto interessante entre vida e morte; Mostrando crianças jovens, que ainda estão começando a viver, tendo que se deparar pela primeira vez com a morte. O cadáver de um garoto, que poderia facilmente ser qualquer um deles. A jornada deles é narrada com todos os detalhes, os meninos atravessam a cidade andando e tendo que enfrentar diversos dilemas pelo caminho; inclusive tendo que racionar comida e dormir no chão. Mas a perseverança deles é o que os leva até o  derradeiro final.

 

Achei o final um tanto enrolado,, o autor poderia ter finalizado a história um pouco antes e economizado algumas páginas. Eu ficaria feliz se tivesse tido outro desfecho, achei simples e anticlimático.

 

Inverno no Clube - O método respiratório

''Uma mulher desgraçada decide vencer a morte...''

 

Essa é a última história dessa coletana. Aqui nós vemos um grupo de homens velhos, que apesar de não serem grandes amigos, eles se reúnem numa antiga biblioteca para beberem, conversarem e contar histórias dos mais variados tipos - isso durante a temporada de inverno nos Estados Unidos - pode parecer uma narrativa simples, mas ao avaliar mais afundo o enredo podemos perceber que aqui o autor levantou uma discussão interessante, ele estava falando, nas entrelinhas, sobre a solidão que a velhice pode trazer com o passar dos anos, mesmo que o homem seja casado e tenha filhos. Faz parte da natureza masculina se sentir sozinho e abandonado. Pode ser importante socializar com outros homens de sua idade, para trocar histórias, experiencias de vida, entre outras coisas...

 

O foco da narrativa será sobre uma das histórias contada lá, por um dos membros do clube, na época de natal. É a história de uma mulher que vai tentar dar á luz a qualquer custo! Mesmo depois da morte...

 

Método é uma excelente história de horror.

 

O posfácio incluso na edição de Quatro Estações é muito interessante. King gosta de conversar com seus leitores, e nesse texto ele justificou a existência dessas quatro histórias que são bem diferentes do que ele tem costume de publicar. Elas não poderiam ser publicadas como contos, por serem longas de mais, e também não poderiam ser chamadas de romances, por serem curtas de mais.

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