“Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.” ...
CIENTISTAS DESCOBREM FENÔMENO METERIOLÓGICO: todos eles estavam preocupados, pois, há muito tempo não chovia naquela parte do estado, as reservas hidráulicas estavam ficando cada vez mais esgotadas, e as plantações alimentícias não recebiam o necessário de água para que pudessem crescer saudáveis e serem cultivadas corretamente, depois vendidas e usadas para alimentar muitas famílias: dando um impulso enorme na economia de muitos municípios do país.
Não vivemos sem água, sabendo disso os cientistas determinaram uma meta a ser cumprida até o final da temporada, se não chovesse pelo menos 40% do que era esperado para o mês inteiro, seria considerado estado de calamidade pública, os preços dos alimentos subiriam drasticamente e haveria racionamento de água em muitos lugares, causando a revolta da população.
Todos eles observavam os céus, todos eles procuravam por nuvens carregadas de água, olhando com atenção se haveria mudanças na umidade do ar, ou se as folhas das arvores ficariam onduladas, ou então se havia alguma mudança na cor do céu, indicando outros padrões climáticos, qualquer um desses sinais entregariam que uma grande tempestade estava a caminho, então eles observavam...
MAS O QUE ELES ENCONTRARAM FOI UMA COISA INCOMUM VINDO DO CÉU, incomum, mas não impossível, era algo que estava muito distante da terra, mas que se aproximava rapidamente em nossa direção, uma chuva de estrelas cadentes. Nada mais é que fragmentos e sujeira que um cometa foi carregando ao longo de sua trajetória, quando o cometa passa perto da terra é comum que parte dessa sujeira caia em nosso planeta, provocando o fenômeno conhecido como ''chuva de estrelas cadentes''.
Segundo as previsões dos cientistas, a ''chuva de estrelas'' cairá na terra numa terça-feira, e poderá ser vista pelos moradores de muitos municípios do Brasil. Boa parte daqueles que estavam sofrendo com a falta d'água também poderão ver o fenômeno, alguns dos cientistas consideraram aquilo uma infeliz coincidência: os religiosos rezavam por água, e em troca dessas orações receberiam uma belíssima chuva de estrelas.
O fenômeno era maravilhoso, mas não resolveria o problema da falta d'água.
Deus é uma divindade irônica e cruel.
TODOS EM ''CASTELO ALTO'' FICAM EUFÓRICOS a cidade fazia parte de um dos municípios que sofriam com a falta d'água. Quando os cientistas anunciaram o que estava sendo chamado de ''chuva das estrelas'', o boato se espalhou por toda a cidade. Foi noticiado que ''Castelo Alto'' seria o epicentro do fenômeno, isso significa que todos os moradores poderiam contemplar as estrelas a olho nu, para uma cidade pacata do interior essa noticia era mais que maravilhosa, era um acontecimento!
O PREFEITO LUDOVICO estava finalizando seu primeiro mandato na prefeitura da cidade e logo chegariam as próximas eleições, ele gostou muito de estar no poder e agora pretendia concorrer novamente a um cargo na prefeitura de ''Castelo Alto''. Suas conquistas devem ser elogiadas, Ludovico fez o melhor que pôde para que a cidade prosperasse o máximo possível.
Ele estava indo muito bem, mas aconteceu um imprevisto que prejudicou e muito a cidade, e consequentemente seus trabalhos na prefeitura, não chovia há muito tempo, e com a seca chegaram os problemas de economia na cidade, os alimentos estavam bem mais caros, e por ordens do governo do estado onde fica ''Castelo alto'' Ludovico precisou estabelecer um racionamento de água domiciliar, agora, todos precisavam utilizar menos água, isso gerou uma grande rejeição, e a porcentagem de intenções de voto caiu drasticamente.
Quando a ''chuva das estrelas'' foi anunciada pelos cientistas, a primeira coisa que Ludovico pensou foi em fazer uma passeata politica, seria um evento público, exibido no mesmo momento que as estrelas estariam dando seu show particular no céu: isso emocionaria os eleitores, e claro, com a propaganda politica que ali seria imposta, eles se lembrariam do quanto ele foi um bom prefeito, antes da crise causada pela falta d'água, antes da cidade ficar miserável de recursos básicos, ele tinha sido um bom prefeito.
O EVENTO ACONTECERIA NA PRÓXIMA TERÇA-FEIRA, sendo assim, tudo teria de estar preparado de antemão, para que quando as estrelas 'caírem do céu'', Ludovico esteja posicionado no palco, em meio a toda cidade, dando seu melhor discurso politico. Dizem que os olhos são a janela da alma: o que os eleitores veriam naquele momento abriria as portas para seu novo mandato politico, bastava apenas que seu espetáculo desse certo, as estrelas cairiam do céu, e ele daria um show aqui na terra, tudo teria de estar perfeito.
Como acontece em toda cidade pequena do interior, o evento foi anunciado pelo boca-boca, os próprios residentes, animados com o acontecimento, faziam a divulgação da noite.
Foram encomendadas muitas barraquinhas de são João, todas montadas na praça da cidade, coloridas e pontudas lembrando uma lona de circo. As cozinheiras estavam dispostas a servir a noite com comidas típicas do interior, pamonhas, milho-verde e pipoca seriam vendidas nessas barraquinhas, e na mesa principal, aquela que serviria um banquete para toda a cidade, estaria todos os pratos que os próprios habitantes de ''Castelo Alto'' costumavam levar nesses eventos, essa mesa era montada em toda festa que unia os moradores da cidade, e costumava ficar tão farta de comida que mal sobrava espaço para as sobremesas.
O pessoal do ''Comitê politico'', aqueles que eram assalariados para cuidar da campanha do prefeito, prepararam bandeirinhas e faixas com o rosto de Ludovico, elas seriam penduradas em cordas e colocadas bem no alto, cobrindo toda a praça da cidade, lembrando muito uma decoração de São-João. O palco estava decorado com as cores da primeira campanha de Ludovico, ''Azul, vermelho e verde'', seu rosto estava estampado nas laterais e no centro foi colocado um grande holofote, que anunciaria o momento exato que ele daria seu grande discurso.
AMETISTA ESTAVA ANIMADA para ver com seus próprios olhos a ''chuva das estrelas'' que lhe foi prometida pelos cientistas a muitos dias atrás.
Finalmente chegou o dia, ela estava ciente que Ludovico estava fazendo um grande espetáculo em cima disso, obviamente na intenção de ganhar mais alguns votos na próxima eleição para prefeito, ela pretendia comparecer ao evento, mas não dava a mínima para Ludovico, ele fez um bom trabalho em seu primeiro mandado, mas ao explorar o que seria um ''fenômeno meteorológico'' para fazer propaganda politica ele demonstrou um certo desvio de caráter.
Ela abriu seu pequeno armário e tirou um vestido verde, era bordado, com algumas perolas na gola, ele estava um pouco justo e cobriria apenas seus joelhos: era sua melhor roupa, ela costumava vesti-lo apenas em ocasiões especiais, e como essa noite prometia ser diferente de todas as outras noites da estação, ela estava animada.
TADEU era o faxineiro de ''Castelo Alto'', as vezes limpava a igreja, as vezes varria os corredores do cemitério, mas quase sempre estava limpando as ruas da cidade. Ele era contratado da prefeitura e seu serviço era geral.
Ele não tem uma das pernas, perdeu o membro esquerdo quando era apenas um menino, num acidente de trabalho. Cresceu sozinho no mundo, sem família e amigos, era conhecido em toda a cidade, mas não tinha intimidade com muita gente, ele era um andarilho solitário.
A pele negra queimava ao sol, ele varria incansavelmente o chão da igreja como fazia todos os dias, na mão direita segurava a vassoura. e na mão esquerda segurava sua muleta, que o sustentava e substitui a falta da perna esquerda, isso fazia com que seu trabalho fique arrastado e lento, era um processo gradativo, impossível para qualquer um, mas não para Tadeu, afinal, alguém precisava limpar aquela sujeira.
Quando passou pela entrada da capela, observou que alguns homens estavam carregando a estatua da santa Candelária para fora da igreja, como sempre faziam em dia de evento, era um monumento pesado, feito de cera branca, precisavam de quatro homens para carrega-la, a santa era levada para longe da igreja e posta na praça da cidade, bem no centro, para que todos possam cultuar vossa santidade, esse costume começou no ultimo ano, no dia de todos os santos, e continuou a ser feito religiosamente em qualquer outro feriado, segundo o prefeito Ludovico, ''todo dia é dia de cultuar os santos'', eles fariam uma festa, se divertiriam e esqueceriam dos problemas, mas também prestariam as contas com os santos, pediriam perdão por seus pecados, era assim que faziam em ''Castelo Alto'' nos dias de festa.
''_ Acho um desrespeito com vossa santidade'' ele pensou, ainda observando a santa sendo levada para longe da igreja, onde deveria ser seu lugar fixo. Tadeu sabia que quando todos estavam se divertindo com seus amigos e família, comendo e bebendo, e principalmente tagarelando futilidades, ninguém mal olhava para a Santa Candelária, o prefeito infelizmente fazia isso para tentar passar uma imagem religiosa para seus eleitores, que eram em sua maioria conservadores, e Tadeu não gostava nem um pouco disso.
Ele deu um ultimo olhar para a Santa Candelária, que agora desaparecia na esquina em direção a praça da cidade, e com pesar voltou a varrer o chão.
AS ESTRELAS ESTAVAM CHEGANDO, e não eram apenas as estrelas, com elas vinha uma água misteriosa, formando gradualmente uma tempestade: essa substancia jamais fez parte da atmosfera do planeta terra. Essa água veio de muito longe, do espaço, do inimaginável. Veio do paraíso, ou podia ser do inferno? Ninguém saberia responder. Mas ela estava chegando, e atingiria o planeta terra em muito pouco tempo, trazendo com ela o poder dos deuses, ou algo maligno, que poderia ser a maldição dos demônios! É algo desconhecido, que ninguém dá Terra havia presenciado até então.
MAS AS ESTRELAS (E A TEMPESTADE) ESTAVAM CHEGANDO, elas atingiriam a cidade de ''Castelo Alto'' com toda magnitude de seu poder.
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