As protagonistas mais diferenciadas da teledramaturgia.

Tang
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Desde os primórdios da televisão brasileira a mulher vêm ganhando cada vez mais espaço em nossas produções.

A figura da mulher sempre foi o grande destaque das novelas brasileiras, mas isso não significa que a mulher foi bem representada durante todos esses anos, as protagonistas mais clássicas costumavam ser sonsas e até tapadas em muitos momentos, (ou estavam disputando alguém com alguém, ou estavam agindo feito uma boa samaritana ajudando Deus e o mundo), mas nunca ajudando a si própria.

 

Isso acontecia porque nas novelas brasileiras (principalmente nas produções mais antigas) nós costumávamos ver uma certa padronização das personagens femininas, era difícil vermos uma protagonista que não era demasiadamente boa com seus semelhantes, ou então, inocentes demais para cair nos planos mirabolantes das vilãs. Normalmente esse tipo de mocinha é feita de gato e sapato por outros personagens das novelas.

 

Na minha opinião, quando a bondade excessiva faz parte da personalidade de uma pessoa, essa pessoa vai ser feita de trouxa por alguém. Não que tenha algum problema em ser ''bom'', mas estamos falando de novelas, essas mocinhas estavam lidando com pessoas realmente muito maldosas. Nesses casos, é conveniente que a esperteza venha antes da bondade (inocência demasiada).

 

É claro que durante todos esses anos nós tivemos algumas exceções, existem casos raros onde a protagonista consegue ser tão esperta e maldosa quanto os vilões da novela. Normalmente são mocinhas empoderadas, mulheres que gostam de ter o controle da própria vida e que não levam desaforo pra casa.

 

Existem até algumas protagonistas que foram a própria figura de maldade da novela, quebrando os padrões, elas assumiram o posto da vilã e fizeram um inferno na vida de outros personagens.

 

Novelas assim costumam chamar atenção do público por serem fora da curva e apresentarem algo de novo para o telespectador. Vamos relembrar algumas dessas protagonistas tão diferenciadas:


Xica da Silva: A escrava que virou rainha! (1996)

 


Começaremos em grande estilo relembrando a lendária Francisca da Silva, escrava que virou rainha em pleno século 18, no Arraial do Tijuco, Minas Gerais. Xica é esperta e atrevida: casou-se com um branco rico e virou dona de muitas riquezas durante toda sua vida. Seu casamento escandalizou a sociedade hipócrita da época, que não suportavam presenciar uma negra com tanto poder.

 

Os inimigos de Xica eram muitos, antes de virar esposa do contratador João Fernandes de Oliveira, ela foi escrava na casa de Violante, mulher extremamente cruel e preconceituosa com pessoas negras (''eles não tem alma'' palavras da própria Violante), a beata era a esposa prometida para o contratador, mas João Fernandes acabou apaixonando-se por Xica ao vê-la se banhando numa cachoeira, completamente nua.

 

Violante jamais aceitaria ser trocada por uma negra, a partir daí se inicia uma guerra entre as duas mulheres, envolvendo sadismo e muita, mais muita cenas de maldade com escravos. Isso acontecia porque tanto Xica quanto Violante mandavam seus escravos fazerem o trabalho sujo delas, e eles é quem acabavam pagando o preço mais tarde.

 

Não sabemos qual das duas foi mais cruel com seus ''inimigos'' (escravos).

 

Xica era maldosa com seus semelhantes, principalmente com aqueles que a prejudicavam de alguma maneira, não foram poucas as cenas de espancamento de escravos a mando da própria Xica. Pasmem! Ela acreditava que estava se vingando de Violante quando castigava os escravos de sua arqui-inimiga.

 

Acredito que foi um escândalo na época essas atitudes maldosas da ex-escrava para com seus semelhantes de cor.

 

Vou listar algumas das atitudes mais deploráveis dela:


- Xica mandou arrancar fora todos os dentes de uma das escravas de Violante.

 

- Decepou a cabeça de uma escrava que estava tentando seduzir seu marido.

 

- Mandou chicotear suas mucamas após traírem sua confiança.

 

- Matou Damião (informante de Violante) e fez uma feijoada com as ''carne'' dele. Ela deu essa feijoada para os brancos da cidade comerem.

 

- Quando seu marido João Fernandes elogiou os dentes de uma das escravas de Xica, ela ficou possessa de ciumes, mandou arrancar todos os dentes da escrava e deu de presente para o Contratador, que ficou horrorizado com a crueldade de sua esposa.

 

- Fora outras inúmeras demostrações de sadismo e crueldade por parta dela.

 

Era absurda a ''maldade'' de Xica, mas posso dizer que ela fazia isso apenas para se defender.

 

Carmem: A própria Pomba-Gira (1987)



Carmem é uma mulher exuberante e sensual, mas desiludida no amor. Ela estava apaixonada por um homem e desistiu de sua vida simplória ao lado da mãe para viver essa paixão ao lado dele, mas Ciro, após prometer casar-se com ela, a enganou.

 

Sozinha e desesperada, Carmem decide fazer um pacto de sangue com a pomba-gira cigana, a fim de ficar poderosa e destruir a vida de Ciro. Durante o pacto foi dito que ela teria controle sobre o desejo dos homens, ela seria desejada e assediada por todos eles, mas jamais poderia se apaixonar novamente.

 

Carmem passa a incorporar o espirito da pomba-Gira em situações de conflito ou sedução, ela perde o controle de seus atos, tem prazer em ser vulgar com outras pessoas, principalmente com os homens. Basta um olhar de desejo masculino para Carmem ficar possessa e transar com o primeiro que vê pela frente.

 

Carmem virou uma mulher manipuladora, maldosa e cruel com outras mulheres, ela se envolveu com vários homens casados, e fez questão que as esposas ficassem sabendo que seus respectivos maridos a desejavam.

 

O pacto de sangue foi bem-sucedido durante um curto período de tempo. A situação fugiu de seu controle quando ela se envolveu com José, marido da insegura Micaela. Ele se apaixonou perdidamente por Carmem, ficou louco de desejo, chegando ao ponto de perseguir e ameaçar Carmem diversas vezes. Esse desejo estava destruindo a vida de José, o homem até tentou ''dar cabo'' da própria vida na tentativa de acabar com essa paixão alucinada... mas ainda não era o fim.

 

Carmem se envolveu verdadeiramente com o piloto Camilo, ela passou a nutrir um sentimento sincero pelo homem, indo de contra as regras do pacto que fez com a cigana. É quando a pomba-gira se revolta com a ''mocinha'' e passa a atormentá-la dia e noite.

 

Devido a seu comportamento absurdo foi expulsa de casa, agora ela é uma mulher revoltada e alcoólatra, e fazia muitas loucuras sempre que era desejada por algum homem. Foi presa por agressão e tentativa de homicídio.

 

Desesperada e sem Camilo, seu grande amor, Carmem procura outra bruxa Cigana para desfazer o pacto de sangue, mas o trabalho só poderia ser desfeito se Carmem recuperar um punhal que deu de presente a José quando eles tiveram um caso. Carmem teria de enfrentar um grande desafio, já que José estava cada dia mais louco de amor por ela, ele seria capaz de mata-la só para não ver Carmem se envolvendo com outro homem. A partir daí vamos acompanhar o desenrolar da história.

 

Tieta: Cachaça! Mulher! Sinuca! Progresso! (1989)

 

 

Clássica novela de Aguinaldo Silva. Tieta é uma protagonista forte! Em sua juventude foi reprimida pelo conservadorismo da pacata Santana do Agreste. Foi expulsa da cidade pelo pai, o machista Zé Esteves, que estava irritado com seu comportamento libertino e vulgar.

 

Cerca de vinte anos depois, Tieta reaparece na cidade decidida a se vingar do povo hipócrita que a julgou e reprimiu no passado, com muita ousadia e sensualidade.

 

Helena: Amor ou crueldade? (1997)



Helena é mais que uma simples ''mãe'', ela é a melhor amiga de sua filha, Eduarda. A menina desde pequena sempre demonstrou ser muito sensível aos problemas da vida, e Helena, numa tentativa de proteger a filha, acabou privando Eduarda de enfrentar qualquer tipo de ''estresse'' que ela poderia ter sofrido durante sua infância e adolescência.

 

Por consequência disso, Eduarda cresceu insegura e mimada, ela não suporta ser contrariada e gosta que todos a sua volta realize suas vontades. Ela é casada com Marcelo, que sonha em ser pai, mas após perderem o primeiro bebê, o casamento dos dois está com os dias contados, e apenas uma nova gravidez seria capaz de salvar esse matrimônio.

 

Numa dessas coincidências da vida, mãe e filha engravidaram na mesma época. Nessa segunda gravidez Eduarda conseguiu segurar a gestação durante os nove meses e ás duas dariam á luz no mesmo dia.

 

Quando chegou o dia dos bebês nascerem uma fatalidade aconteceu, Eduarda teve complicações pós-parto, seu útero não contraiu e ele estava tendo uma grave hemorragia, o médico precisou fazer uma cirurgia de emergente para tentar reverter o quadro da paciente, os resultados dessa operação fez com que Eduarda ficasse estéril, nunca mais poderia ter filhos.

 

O filho de Helena nasceu saudável, mas o bebê de Eduarda estava muito fraco e acabou falecendo, Helena imaginou que seria muito traumatizante para Eduarda perder o filho e fez um pacto com um dos médicos: trocar as crianças. Eduarda criará o irmão pensando ser seu filho, e Helena sofrerá pelo filho morto que, na verdade, é seu neto.

 

Isso foi uma loucura por vários motivos: primeiro que a Helena não tinha o direito de dispor do próprio filho dessa maneira, ela demonstrou que ama mais a Eduarda que qualquer outra pessoa.

 

Segundo motivo, e esse é ainda mais grave, O filho de Helena tinha um pai que o amava imensamente, quando Atílio soube que seu filho havia ''falecido'', entrou numa depressão profunda,  sua vida, seu trabalho e seu casamento começaram a declinar, pois, ele não tinha mais motivos para viver. Helena foi a culpada por todo esse sofrimento, e mesmo sabendo que era responsável por todo esse sofrimento, continuou casada com ele durante muito tempo.

 

Foi um ato de amor, mas também foi extremamente egoísta e irresponsável.

ao longo da novela vemos que Helena não estava disposta em desfazer essa mentira, demostrando não estar arrependida pelo fez, mesmo muitas pessoas dizendo a ela o quanto aquilo tinha sido uma verdadeira loucura, ela não deu o braço a torcer.


Helena abusou do direito de ser mãe.

 

Todas essas protagonistas possuem algo em comum, elas buscavam a própria felicidade sem dar importância para a imposição dos outros. Por mais que elas tenham tomado atitudes erradas ao longo das novelas, o papel que essas personagens tiveram na sociedade foi muito importante, a mensagem é clara e simples: A mulher é livre para viver suas ambições, seus desejos e suas paixões. 

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