História de amor - Resenha

Tang
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Manoel Carlos tinha em mente uma excelente história de amor. Que provavelmente teria sido um enorme sucesso de audiência e repercussão, mas por ser considerada pesada demais para o horário das 18h, houve interferência do ministério da justiça e ele precisou mudar sua sinopse de última hora, para adequar sua história ao horário.

Trata-se da sinopse original de História de Amor, que consistia em mostrar a disputa de duas mulheres, mãe e filha, pelo amor de mesmo homem. Algo polêmico para a época, pois, teoricamente, poderia não ser aprovado pelo grande público conservador - uma enorme baboseira, já que alguns anos mais tarde maneco apostou esse mesmo plot em Laços de Família e foi um enorme sucesso - e com muito pesar, ele resolveu mudar os rumos da história ao fazer uma novela mais clássica e leve para o horário. E assim nasceu a novela que todos nós conhecemos, que apesar de não ter sido a história que Maneco idealizou originalmente, ainda assim, foi uma excelente trama, com grandes personagens e um excelente enredo, boa do início ao fim, mesmo contendo mais de 200 capítulos em sua totalidade.

 

Considero História de Amor a percussora de todos os bons recursos de escrita do Manoel Carlos, que foram ficando mais evidentes nas novelas posteriores a essa, mas que já se mostravam extremamente fortes e marcantes desde sempre; tramas e subtramas reutilizadas nos anos seguintes já faziam parte de sua dramaturgia muito antes de sabermos que elas seriam uma grande marca do autor.

 

Quer saber como?

 

Confira a seguir:

 

Laços de Família - Mãe e filha disputando o mesmo homem



Como foi dito anteriormente, originalmente nós teríamos uma rivalidade entre Joyce (Carla Marins) e Helena (Regina Duarte), as duas disputando o amor de Carlos (José Mayer), mas a polêmica não foi vista com bons olhos pelo ministério da justiça, pois a novela passaria muito cedo e nesse horário é preferível que as tramas sejam mais leves e direcionadas para toda a família. Infelizmente esse plot foi limado do texto final e não tivemos qualquer menção a isso ao longo dos capítulos, no máximo, alguma insinuação de Joyce pra cima do Carlos, mas isso logo foi sendo esquecido e nunca mais tivemos outras insinuações ou algo do tipo.

 

O triangulo amoroso envolvendo mãe e filha foi reutilizado por Manoel Carlos alguns anos depois na novela Laços de Família, e todos nós sabemos que foi um enorme sucesso de audiência e repercussão, mostrando de maneira muito clara que o MJ estava errado em censurar essa história no horário das 18h, uma vez que ela se tornou um grande clássico das novelas, sendo reprisada muitas vezes, e todas às vezes fazendo um enorme sucesso.

 

Mulheres Apaixonadas - Sheila, Paula, Helena e Joyce

 


Outro clássico do autor foi ''Mulheres Apaixonadas'', novela focada em mostrar os dramas do universo feminino e a forma intensa que cada uma delas vivem seus amores e suas paixões, sempre com muita sensibilidade e emoção.

 

Nós vimos esse mesmo estilo em História de Amor, mas de maneira mais poética e indireta, não tão apelativa quanto Mulheres Apaixonadas, mas igualmente interessante.

 

Helena iniciou seu romance com Carlos já no início da novela, mas não contava que havia duas mulheres neuróticas dispostas a acabar com sua felicidade, isso porque elas eram completamente apaixonadas por Carlos, e fariam de tudo para impedir que ele engate um novo romance com outra mulher que não fosse uma delas.

 

Paula (Carolina Ferraz), antagonista principal da trama, é mimada e gosta de ter o mundo inteiro a seus pés, não aceitou ser rejeitada por Carlos e muito menos ser trocada pela Helena. Fará de tudo para impedir que Helena seja feliz ao lado do homem que ama, e está disposta a tudo, inclusive a ter um filho de Carlos, para fazer chantagens e dar o golpe da barriga. Tudo é valido, para defender suas vontades e suas paixões; Sheila (Lilia Cabral), na minha opinião, é o grande destaque da novela, viveu por muitos anos um longo e belo romance com Carlos, mas que chegou ao fim após ele ser seduzido por Paula. Ele decidiu então se casar com a bela e jovem moça, deixando Sheila sozinha e muito solitária.

 

Sheila jamais aceitou ser abandonada por Carlos, e principalmente, ser trocada pela Paula, que é uma pessoa que Sheila sente um profundo desprezo e rancor; chegando ao ponto de enlouquecer de tanto ódio.

 

O engraçado é que Sheila aceitou numa boa o romance de Helena com Carlos, o que ela não aceita é perder pra Paula, e isso fica bem claro quando ela vai armando de maneira indireta para prejudicar a vida de sua rival. A sua maneira particular totalmente louca e desequilibrada; a personagem passa a ter acessos de fúria em momentos inapropriados, surtos de choro e riso quando estava sozinha, e também teve episódios de completa catatonia em diversos momentos, se mostrou completamente apagada da realidade e submersa em sua própria paranoia, Sheila estava louca e Paula era seu principal alvo.

 

Essa loucura foi feita de maneira gradativa pelo maneco, e esse foi o grande destaque da novela. Foi delicioso acompanhar cada novo avanço da loucura de Sheila. Uma das minhas personagens favoritas, não só dessa novela, mas de todas as outras.

 

Por Amor - Amor incondicional de uma mãe



A título de curiosidade, a novela Por Amor foi feita propositalmente para ser parecida com História de Amor. Acontece que o público e elenco ficaram viúvos de História de Amor após seu final, tamanha era sua qualidade narrativa, e maneco foi aconselhado a fazer uma novela parecida no horário das 20h, pois certamente seria um grande sucesso.

 

E ele assim o fez, apostando numa trama impactante que exemplifica os sacrifícios que uma mãe pode fazer por uma filha, em ''Por Amor'' foi feita a troca dos bebês, um único ato de desespero de Helena para salvar a vida de sua filha. Porém, essa característica foi certamente tirada de História de Amor, pois aqui nós temos uma Helena clássica, total e inteiramente dedicada a sua filha, mesmo que ela não mereça.

 

Helena Soares, A mais incrível de todas as Helenas. É tão humana que nos faz criar um sentimento de amizade sincero por ela, é como se ela fosse uma amiga íntima nossa, do tipo de troca confidencias e mantém uma confiança extrema nas horas de aperto. E sendo uma personagem tão complexa, não poderiam faltar várias antagonistas para criar conflito e fazer da vida da nossa heroína um verdadeiro inferno. Paula, Sheila, Dalva e Rafaela se encarregaram desse papel.

 

Mas a principal rival de Helena é sua filha, Joyce, ela que foi a percussora no quesito de ser a ''filha chata da Helena''.

 

Joyce era cruel, afrontosa, tinha sangue quente e não perdia a oportunidade de humilhar sua própria mãe. A raiva que ela sentia de Helena nunca foi muito explicada na novela, por mais que esse tenha sido o maior conflito ao longo dos mais de 200 capítulos. Posso dizer que tivemos brigas antológicas delas duas, pois Helena era sim muito tolerante, mas só até certo ponto, ela entrava em conflito com a filha quando era necessário, gritava e fazia barraco; diferente de outras mocinhas do maneco que eram mais sofisticadas, essa Helena era do tipo ''gente como a gente'', mulher simples e forte. Muito bem escrita.

 Palmas a Regina Duarte que fez esse papel brilhantemente. 

E agora, algumas curiosidades.

Folhetim leve e charmoso, ao estilo das crônicas urbanas do Manoel Carlos. Produção impecável com direção de Ricardo Waddington, com quem Maneco voltou a trabalhar em suas três novelas seguintes, Por Amor (1997), Laços de Família (2000). Mulheres Apaixonadas (2003), e na minissérie Presença de Anita (2001).

Novamente a Globo pediu a Manoel Carlos que ele escrevesse Por Amor para o horário das seis, cuja sinopse o autor entregara anos antes. A primeira tentativa da emissora foi em 1991, quando Maneco escreveu Felicidade. E novamente o autor alegou que Por Amor só poderia ser feita para o horário das oito, ou seja, para o horário nobre. Maneco apresentou então a sinopse de História de Amor, que foi aprovada imediatamente. E Por Amor só viria a ser produzida na sequência, em 1997.

Em depoimento ao projeto ''Memoria Globo'', Regina Duarte declarou: 'História de Amor eu não queria que acabasse nunca. Eu cheguei a dizer para o Boni: ''não dá para ficar como aqueles seriados de antigamente, que duravam cinco, dez, quinze anos?'' Eu queria ficar fazendo História de Amor para sempre. Ele dava risada e dizia: ''Não. Tem que acabar. Mas a gente faz outra depois''. E realmente, um ano depois, ele me chamou para fazer o que pra mim era História de Amor 2, mas levou o nome de Por Amor. E ainda chamou a Gabriela pra fazer minha filha. Foi o máximo!''

Além de Regina Duarte, Lilia Cabral e Carolina Ferraz tiveram um enorme destaque com suas personagens. Lilia como a dissimulada, louca e desequilibrada Sheila, e Carolina como a mimada, temperamental e ciumenta Paula. As duas personagens disputavam o amor de Carlos (José Mayer) que era apaixonado por Helena (Regina Duarte).

A personagem de Bia Nunnes, Marta, sofria de câncer de mama e vários aspectos da doença foram discutidos. Manoel Carlos recebeu uma carta do Instituto Nacional do Câncer atestando um grande aumento no número de mulheres preocupadas em fazer exames preventivos.

Uma carta publicada no Jornal do Brasil fez com que fosse mudado o visual de Helena na novela: ''O que está havendo com o cabelo da Regina Duarte? Tenho duas dicas: uma permanente afro ou um corte na altura do pescoço. Aquela trança dá a ela um aspecto de favelada.''

A jornalista e apresentadora Renata Vasconcellos era modelo quando gravou a abertura de História de Amor. Ela já havia aparecido em um capítulo de A Próxima Vítima (1995), fazendo uma figuração como modelo. Renata estreou no jornalismo em 1996, quando ingressou na primeira equipe do canal pago GloboNews, passando a apresentar na TV aberta o Bom Dia Brasil e o Jornal Nacional.

História de Amor foi reapresentada no Vale a pena Ver de Novo, entre 10/12/2002. Ganhou nova reprise no Canal Viva entre 10/03 e 08/11/2014, as 15h30. Foi um grande sucesso em todas as suas exibições .

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