Sombras da Noite - Resenha

Tang
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A algum tempo eu venho me perguntando - ''por que sou tão fascinado pela escrita do Stephen King?'', (durante o último ano, minha rotina de leitura se resume apenas as novelas desse escritor), a resposta para essa pergunta é simples, eu gosto de histórias sem qualquer compromisso com a realidade.

Histórias fantásticas costumam chamar minha atenção, pois são obras que te dão liberdade criativa e imaginativa de desenvolver sua própria narrativa, paltando em sua própria interpretação. Não costuma ser uma leitura prazerosa para quem busca algo mais culto ou sofisticado, mas satisfaz aqueles que querem bom conteúdo e divertimento. Stephen King é mestre em nos fazer ''voar''.

 

Em ''Sombras da Noite'', sua primeira antologia de estórias curtas, o leitor pôde viajar pelo multiverso mágico (e sinistro) do autor. Aqui vamos encontrar vinte de suas mais inquietantes obras, são estórias criativas que brincam com a imaginação do leitor; s cenários são familiares e acima de qualquer suspeita.


A proposta do autor, em sua grande maioria, é mostrar pessoas comuns vivendo situações bizarras e peculiares do dia a dia, ele gosta de brincar com seus personagens, normalmente, nem mesmo ele sabe como aquilo vai acabar, isso significa que suas estórias são um divertimento tanto para ele quanto para aqueles que acompanham seu trabalho.

 

Irei listar algumas das incríveis obras dessa coletânea, são estórias fantásticas e bastante peculiares.

 

AVISO: pode conter spoilers!


Último turno:

 

''Um grupo de homens aceitam limpar o porão de uma fábrica têxtil em troca de um dinheiro extra. mas ao avançarem pela penumbra do lugar, eles descobrem que estranhas criaturas estavam a espreita, apenas esperando por eles.''

 

Confesso que foi uma leitura bastante incomoda em muitos momentos, a descrição dos ratos mutantes é nojenta, e faz desse conto um dos mais aterrorizantes dessa coletânea. A narrativa é muito boa, embora não tenhamos tempo de criar a mínima empatia pelos personagens, as coisas acontecem rápido demais. Posso dizer que fiquei extremamente enojado com aqueles ''ratos'' mutantes, ratos que também podem ser morcegos ou enormes capivaras!

 

Eles estavam se proliferando, fiquei com vontade de saber mais sobre essas criaturas, mas quando chegou o momento de obtermos alguma resposta o conto chegou ao fim.

 

Nota: 4,0

 

Eu sou o portal

 

''Aqui vamos acompanhar a história de um ex-astronauta que após voltar de uma missão espacial no planeta Vênus, ele percebe que estranhas criaturas estão emergindo da palma de sua mão. Aconteceu algo fora do normal enquanto ele estava em outro planeta, resta saber o quê.''

 

O conto é estranho e peculiar, digo no bom sentido. Vai ser uma leitura incrível para aqueles que gostam de ficção cientifica, não recebemos tantas informações sobre esses alienígenas, apenas sabemos que eles estão tomando para si o corpo do protagonista, mas eu posso dizer que essas criaturas são grotescas e até assustadoras. O desfecho dessa estória é quase alucinante, nos faz imaginar o que acontece depois. (Stephen King adora brincar com a imaginação do leitor).

 

Nota: 4,0

 

A Máquina de passar roupas

 

''Após uma mulher virgem se machucar no local de trabalho, quando manuseava o equipamento, algumas gotinhas de seu sangue acabou manchando o interior da maquina de passar roupas. Após esse fatídico acontecimento, a maquina passa a ter um desejo maligno por carne humana, ela virou uma maquina de matar num curto período de tempo.''

 

O autor deu vida a uma maquina de passar roupas, isso mesmo. O conto me trouxe um sentimento nostálgico enorme, isso porque ele é muito semelhante aos filmes ''trash'' dos anos 80. A narrativa é boa, prende sua atenção do começo ao fim, e o desfecho dessa estória é incrível!

 

Nota: 4,0

 

O bicho papão

 

''Lester Billings vai ao psiquiatra narrar como uma criatura das trevas matou cada um de seus três filhos. Foi uma experiência extremamente traumatizante, ele contou a história de um jeito mórbido e alucinado.''

 

De início, fiquei na dúvida se realmente existiu um bicho-papão ou se foi ele mesmo que matou os próprios filhos e inventou essa história de ''criatura das trevas'' para não ser pego pela justiça. Bom, teorias a parte, no decorrer do conto vamos descobrindo gradualmente o que realmente aconteceu, e no finalzinho o autor colocou um pequeno ''Plot Twist'', que mudou completamente o sentido da estória, de um jeito positivo.

 

Nota: 3,5

 

Massa cinzenta

 

Mais um conto que me fez lembrar dos maravilhosos filmes ''trash'' lançados em sua grande maioria nos anos 80/90. Talvez por isso eu tenha gostado tanto dele.

 

''Aqui vamos acompanhar a história de Richie Grenadine, que ao beber uma substância misteriosa (cerveja fora do prazo de validade), passa a ter seu corpo coberto por uma massa cinzenta, semelhante ao fungo que aparecem nas frutas quando elas apodrecem. Essa ''massa'' cresce desenfreadamente, até que o transforma numa criatura horrenda, que precisa matar pessoas e animais para se alimentar.''

 

O conto é muito bom, a narrativa não vai te dar tantas informações sobre o que está acontecendo, ou o que irá acontecer após o desfecho da estória, deixando que a imaginação do leitor tire suas próprias conclusões.

 

Em determinado momento, nosso protagonista vai se lembrar de um antigo amigo, George Kelso, que era funcionário do departamento de obras públicas de Bangor: ao descer em um cano de esgoto, para fazer uma inspeção ou coisa parecida, ele viu uma aranha enorme, do tamanho de um cachorro, tecendo uma teia onde ali estavam presos alguns gatos mortos e outros pequenos animais. George Kelso ficou horrorizado com o que viu, e largou o emprego no departamento publico dois anos antes de se aposentar.

 

Acredito que essa aranha pode ser uma das filhas de Pennywise. Existem algumas teorias que dizem que o personagem Ben (IT) não conseguiu destruir todos os ovos da Coisa, assim, podemos ter pequenos filhotes dela espalhados pelo multiverso de Stephen King.

 

Nota: 5,0

 

Caminhões

 

''Achei esse conto semelhante a ''O nevoeiro'', aqui nós também temos um grupo de sobreviventes presos em algum estabelecimento, lutando para sobreviver e conviver pacificamente com os demais enquanto o perigo está a espreita do lado de fora. Neste caso, o ''perigo'' são caminhões assassinos!''

 

Mas, se em ''O nevoeiro'', o autor desenvolveu profundamente seus personagens, aqui isso não acontece, o desenvolvimento é simplório, quase não existe. Os seres humanos que aparecem nessa estória não passam de personagens secundários, os verdadeiros protagonistas são as ''maquinas'', mais especificamente caminhões, que agora estão vivos (já vimos isso antes, né não?), e querem escravizar a humanidade de maneira sádica e cruel.

 

Não sabemos exatamente se isso está acontecendo no mundo todo ou apenas naquela cidadezinha do interior, esse é o questionamento principal da narrativa e faz desse conto um dos mais instigantes dessa coletânea.

 

Nota: 3,5

 

O Ressalto

 

''Um milionário descobre traição da esposa com um professor de tênis e resolve se vingar. O professor tem a oportunidade de viver, mas para isso tem que dar a volta no quadragésimo terceiro andar de um prédio sobre o ressalto, na  mira de uma arma.''


Essa narrativa foi extremamente desconfortante, não a indico para quem tem medo de altura ou sofre de claustrofobia. Quando o protagonista estava andando pelo ressalto do prédio eu conseguia sentir aquela agonia, aquele medo, junto com ele. Foi uma leitura tensa e até aterrorizante em alguns momentos.

 

No final, vamos ter algumas surpresas, fiquei mais que satisfeito com o desfecho dessa estória.

 

Nota: 5,0

 

As crianças no milharal

 

''Gatlin (cidade inóspita do interior) a muitos anos vêm sendo assombrada pelo ''espirito que anda por trás das fileiras'', isso é, uma representação de Deus. Essa criatura das trevas vive nos milharais da cidade, sempre esperando pelos sacrifícios de seus servos.

 

Seus servos são crianças loiras (fanáticas religiosas), que há alguns anos cometeram um genocídio naquela região, mataram todos os adultos, incluindo seus pais e mães. O objetivo era ''purificar aquele solo sagrado''.

 

Burt, nosso protagonista, estava viajando com sua esposa pelos arredores da região, até que os dois decidiram desviar da estrada principal e pegar um caminho alternativo, mas não foi uma boa decisão. Não demora para que os dois fiquem perdidos entre uma estradinha de terra e um enorme milharal (lugar onde se tem a constante impressão de estar sendo observado) Após percorrer metade do caminho, uma criança loira apareceu de repente na estrada , ela corria para longe do milharal quando foi atropelada por Burt e sua esposa: a partir daí vamos acompanhar o desenrolar da estória.''

 

Esse pode ser o melhor conto dessa coletânea, foi uma leitura interessante do início ao fim. A todo momento eu me perguntava - ''O que está acontecendo aqui?'', isso porque o autor não poupou o leitor com descrições complexas envolvendo religiosidade e fanatismo ideológico. Eu queria compreender melhor o ''culto'' daquelas crianças, porque elas eram tão sinistras e cruéis? Enfim...

 

''As crianças no milharal' é uma narrativa incrível e muito criativa, mais uma vez tiro meu chapéu para Stephen King, grande contador de histórias.

 

Estou ansioso para assistir ao filme ''Colheita Maldita'', foi inspirado nesse conto e é considerado por muitos um grande clássico do terror.

 

Nota: 5,0

 

Considerações finais:

 

''Sombras da Noite'' é uma antologia de vinte histórias curtas, nem todas essas histórias foram inclusas nessa resenha, isso porque eu não queria estender demais o texto, mas posso dizer que muitos outros contos que não foram citados aqui também são excelentes, eles são: ''Jerusalem´s Lot'', ''Campo de Batalha'', ''Ás vezes eles voltam'', ''Ex-fumantes LTDA'', '' Eu sei do que você precisa'', ''Primavera vermelha'', ''O homem que adorava flores'', ''A saideira'', ''A mulher do quarto''  e ''O último degrau da escada''.

 

Existem também os contos que não valem a pena resenhar para vocês, esses contos eu achei uma porcaria: ''Ondas Noturnas'' e ''O homem do cortador de grama''.

 

Sombras da Noite

Nota: 4,5

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