Está tudo pela hora da sua morte - conto

Tang
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Leia a parte 1 dessa história aqui: A teoria dos irmãos


1) O tempo estava propício para aproveitar bem sua juventude, enquanto a tivesse.

As férias de verão acabara de começar para todos os jovens estudantes daquela mesma idade, que planejavam passar um tempo com seus amigos e namoradas, bebendo, transando, fumando algum ou fazendo qualquer outra coisa irresponsável e divertida que os jovens gostam de fazer. Estava fazendo muito calor. A temperatura do dia era a mais alta registrada naquele ano. Felipe queria mesmo estar em alguma praia tomando banho de mar com seus colegas, ou em algum riacho transando com alguma garota, mas isso ele não podia fazer, pois, aquelas férias de verão ele passaria na casa de seu avô, que ele nem conhecia direito, mas que nos últimos dias apresentou instabilidade na saúde e sua família ficou preocupada de deixá-lo sem supervisão em sua casa. Ele protestou, mas não teve como recusar. Alguém teria de ficar para cuidar do velho ranzinza.

A contragosto, ele abriu mão de suas férias e foi até o casebre velho cuidar daquela antiguidade.

A viagem durou três dias e três noites. Que ele passou a maior parte do tempo ouvindo música, bebendo refrigerante e comendo salgadinhos. E agora enfrentava uma azia forte que o estava incomodando profundamente, mas estava feliz por ter chegado ainda cedo, pois teria tempo de aproveitar o fim de tarde, porém, aquilo só contribuiu para aumentar sua má vontade de estar naquele lugar, pois era só o primeiro dia do que seria um longo verão. O calor aumentava ainda mais seu desconforto. Mas nada o incomodava mais do que a figura desenforme que preenchia toda a cadeira de balanço da varanda. Esparramada na madeira como uma estopa molhada. Enrugada e malcheirosa. Era seu avô, ele supôs, que em poucas palavras cumprimentou Felipe, disse que estava feliz por vê-lo tão crescido e saudável.

E disse também que o esperava pacientemente, pois ele poderia preparar seu chá de ervas.

Felipe largou sua bolsa e foi na direção da cozinha, preparar a bebida do velho.

2) Tudo pronto. Entregou em mãos a bebida para seu avô, que com dificuldade segurou a xícara de chá. Tremendo bastante. Mas não sentindo que a xícara estava muito quente quando a segurou. Felipe notou que muito provavelmente ele próprio teria queimado os dedos se a segurasse daquela forma. Era engraçado como os velhos desenvolviam certas habilidades assim que vão ficando velhos demais.

— Obrigado, meu filho — disse Chico, com sua voz rouca e arrastada característica dos octogenários — sei que parece estranho alguém tomar uma bebida quente como essa em um dia tão quente, mas acontece que mesmo com todo esse calor sinto calafrios em minha espinha — ele lamentou — Acho que não tenho mais sangue quente como os mais jovens. Devo ter sangue-frio como os répteis.

— Não parece tão estranho assim, vô, eu vivo me entupindo de café em dias quentes como esse — Felipe sentou-se no banco de madeira que ficava de frente para a rua — mas hoje acho que vou engolir uma coca.

Ele pegou uma latinha e abriu. Tomou o primeiro gole e observou seu avô o acompanhar bebericando seu chá. Os dois ficaram em silêncio durante um bom tempo. Até que seu avô resolveu puxar um outro assunto.

— Rapaz, um jovem como você certamente iria querer estar em qualquer outro lugar — Chico falou, enquanto observava a passagem de carros pela rua — devem ter obrigado você a vir para cá cuidar de um velho doente e cansado. Fui contra. Mas ninguém costuma dar ouvidos a um velho como eu, muito menos a um jovem rapaz como você. Sinto muito por isso.

— Não se preocupe, vovô, outras férias virão.

— Talvez seja essa a única semelhança entre a juventude e a velhice. Todos nos tratam como criança, ninguém se importa com a nossa opinião. O que queremos e o que precisamos fazer não tem relevância. Ninguém liga de verdade. Apenas fingem se importar conosco. E nos obrigam a fazer o que não queremos.

— Pare com isso. Também não é o fim do mundo. Aqui poderei ficar acordado até tarde, além de ficar à toa o dia inteiro. Terei algumas tarefas, mas é só. Em minha casa, talvez, eu teria que arrumar algum emprego de verão. Meu pai não gosta de me ver ficando à toa desse jeito.

— Para você, ficar à toa deve ser o mais barato. Mas para mim, nem tanto. Ficar à toa é tudo o que faço. Eu daria tudo para poder trabalhar nesse verão. E foder alguma garota no banco de trás do meu carro. Ter 16 anos novamente era o que eu queria. Garoto, eu daria tudo o que tenho para que os seus problemas fossem os meus problemas.

Sem dizer uma só palavra, Felipe continuou tomando sua coca. Observando alguns carros que atravessavam a rua. E seu avô fazia o mesmo. Seu chá estava quase no final.

3) Após algum tempo, um dos carros parou no acostamento e um homem desceu, vestido com um terno barato e segurando uma maleta de couro preta. Era um vendedor ambulante, que veio na direção da varanda querendo fazer alguma venda.

Felipe ergueu sua latinha na direção do rapaz de que aproximava e disse: "aos nossos problemas".

Chico assentiu com a cabeça.

Era um rapaz na faixa de 30 anos. De aparência comum, cabelos castanhos e olhos pretos, vestia um terno preto barato, mas bem alinhado. Típico de vendedor de rua. Chama-se Talmos.

Talmos aproximou-se de Felipe com um sorriso simpático no rosto, que faria qualquer mulher derreter-se todinha e provavelmente comprar qualquer muamba que ele teria para oferecer. Mas isso não funcionaria com Felipe, claro. Então Talmos teria de se garantir em sua lábia e experiência com vendas. Prostrou-se diante dos dois homens, ajeitou seu terno e deixou sua maleta de frente para seu corpo como um escudo e sem mais delongas começou sua prosa:

- Bom dia, meu senhor - falou na direção de Chico. E virou-se para Felipe - Olá, jovem. Venho aqui para oferecer a vocês meus produtos.

- Não estamos interessados - Chico falou secamente.

- Desculpa, cara - disse Felipe.

- Mas ainda assim quero apresentar-lhes o que tenho aqui, mesmo que não comprem.

Então ele abriu sua maleta e mostrou o que tinha ali, eram três bíblias de couro, duas pretas e uma marrom. Em capa dura. Com um feche dourado em cada uma delas. Pareceu a Felipe que eram edições de colecionador e que provavelmente deveriam ser bem mais caras. É, certamente eles não comprariam nada.

- Eu vendo bíblias raras, edições esgotadas e especiais - Talmos falou, como se fosse locutor de rádio - Essa do meio é uma edição ilustrada onde cada livro, de gênesis a apocalipse, ganhou uma ilustração especial feitas originalmente em israel.

- É sério, cara, nos não queremos comprar nada. Nem somos religiosos.

Felipe estava impaciente. Chico era um mistério, pois apenas observava Talmos em silêncio.

- Bom, mas ainda assim gosto de apresentar meu trabalho, jovem, é uma forma de evangelizar a palavra do senhor. Faço isso sempre que posso.

E então Chico falou pela primeira vez desde que Talmos chegou a sua casa.

- Isso não é evangelizar, meu rapaz. Você está comercializando algo que deveria ser entregue gratuitamente a toda criatura - Ele disse, carrancudo - Jesus expulsou pessoas como você dos templos sagrados. E eu o expulso de minha casa. Saia daqui!

- Não é bem assim, meu senhor - Talmos engoliu seco e seu sorriso desapareceu - Eu não vendo bíblias comuns, essas de fato são entregues gratuitamente em qualquer igreja católica e protestante. As minhas são edições especia...

- Não tem nada de especial em você ou em suas bíblias. E não sou seu senhor. Agora saia daqui!

Talmos percebeu que não conseguiria nada e desistiu. Recolheu sua mercadoria e decidiu ir embora.

- Tudo bem, desculpe o incomodo.

Retirou-se tão logo chegou. E Felipe, que apenas observava tudo aquilo acontecendo, achou ótimo que aquele chato tenha ido embora, mas não gostou de como aquilo havia sido feito.

- Vovô porque foi tão rude com aquele cara?

- Não gosto de vendedores ambulantes - Chico disse, observando o rapaz ir embora, e bebericou a última gota de seu chá.

4) Antes de fazer a pergunta obvia a ser feita, Felipe levantou-se e foi buscar um pouco mais de chá para seu avô. Agora estava começando o entardecer e o céu ficara alaranjado, as árvores balançavam com o vento e as últimas folhas de primavera (mesmo que já fosse verão) caiam graciosamente. Estava sendo um dia belo e agradável.

Voltando para a varanda, ele repetiu o mesmo ritual, entregou o chá que havia pegado, sentou-se de frente para a rua e pegou para si uma latinha de coca gelada.

- Então vô, vai me contar porque detesta vendedores ambulantes?

Chico pensou por alguns minutos, pigarreou, coçou a garganta e voltou a ficar em silêncio. Por um momento Felipe achou que ele não diria mais nada, e não insistiu na pergunta. Mas Chico resolveu falar repentinamente:

- Sabe filho, eu já fui um desses vendedores ambulantes. Do tipo insistente, que não desiste da venda, mesmo que o possível cliente esteja em completa negativa. Eu insisto até que ela ceda e compre algo de mim. Mesmo que não tenha dinheiro, de qualquer forma a venda seria feita. E o acordo firmado.

- Sei - disse Felipe - Mas como eles comprariam algo se não tinham dinheiro?

- Existem coisas que o dinheiro não compra, filho, saúde é uma delas. Juventude e inteligência intelectual, são coisas adquiridas em vida, entretanto, não podem ser compradas. Eu oferecia-lhes um bom produto, e em troca a pessoa me oferecia o que ela tinha a me oferecer. Se me interessava, eu fechava negocio.

- Não estou entendendo.

- Claro que não. Mas vou lhe explicar.

5) Chico, que em sua juventude era chamado pelo nome de batismo, Francisco, pegou uma carteira velha do bolso de sua calça com certa dificuldade e dedos trêmulos. E dela retirou uma foto muito antiga, de quando ele ainda era um garoto. Na foto havia um menino loiro, que seria bonito não fosse pela enorme cicatriz em seu rosto, e a extrema magreza de seu corpo. O garoto estava nitidamente doente, qualquer um diria que ele estava a beira da morte, ou que pelo menos morreria muito em breve. Chico entregou a foto e Felipe avaliou bem o que estava vendo. Mesmo não compreendendo.

- Esse sou eu, quando tinha por volta dos meus oito ou nove anos. Não me lembro.

- Você estava doente?

- Eu tive câncer no pulmão, meu pai recebeu o diagnóstico quando eu ainda era um bebê; e essa cicatriz que você vê em meu rosto era algo hereditário e sem explicação. Meu pai tinha uma igual. Meu tio também tinha uma desses e morreu de câncer.

- Isso é uma puta de uma coincidência!

- Não é coincidência alguma, filho. Como falei, em nossa família as doenças se espalham com muita facilidade entre nós. É hereditário. Meu pai chamava isso de ''efeito cascata''. O câncer dele desapareceu assim que meu tio Carlos ficou doente, e ambos passaram a doença para mim. Mas já era muito tarde para ser curado por completo, então meu tio morreu, e eu fiquei com uma pequena parcela da doença, não forte o suficiente para me matar. Mas me deixou terrivelmente doente e meu pai não descansou enquanto não achou uma cura para esse mal.

Felipe estava estupefato com a história. Que ainda era um mistério para ele, e mesmo sem entender muita coisa, ficara interessado na narrativa de seu avô, e perguntava-se como aquilo tudo levaria ao ódio aos vendedores ambulantes, que havia sido a pergunta inicial.

- Bom, tenha paciência, filho - Disse Chico, percebendo a impaciência de seu neto - Sou velho e minha prosa pode ser bastante prolixa.

- Relaxa vô, vou passar o verão aqui com o senhor e teremos muito tempo ainda para conversar. Pode falar o quanto tiver vontade, escutarei tudo.

- Bom, meu pai não foi um cara muito inteligente, então dificilmente ele chegaria a essa conclusão sozinho. Foi após uma longa conversa com um padre em uma paróquia qualquer que ele imaginou que o ''efeito cascata'' talvez pudesse ser passado para outras pessoas que não fossem da nossa família. Ele pensou ''Se for pra alguém ficar doente e morrer, que seja alguém que eu não ame, oras''. O padre obviamente tentou persuadi-lo a deixar essa ideia de lado, claro, mas meu pai estava decidido a passar o câncer adiante. Adiante de mim.

- Como ele fez isso?

- Pode ser difícil de acreditar, filho, mas meu pai funcionava como um fio condutor de eletricidade, pegando energia do ponto A e levando para o ponto B, o que estava me deixando doente já havia sido dele, de qualquer forma, tudo o que ele precisou fazer foi pegar de volta. Ao invés de me doar seu sangue, para a quimioterapia, o que ele fez foi pegar meu sangue e injetar em seu próprio corpo. Éramos perfeitamente compatíveis, como se fossemos um só, meu sangue contaminado com o câncer infectou meu pai como se fosse um vírus, e ele voltou a ficar doente. Quanto a mim, tive uma melhora significativa, e o câncer foi regredindo por completo. Até desaparecer.

- Cacete!

- Pois é, mas não para por aí, papai não queria morrer de câncer, então arrumou um jeito de passá-lo para outro infeliz, através de seu sangue. Fez um pequeno corte em sua mão e deixou o líquido vermelho escorrer; arrumou um jeito de, casualmente, conseguir um aperto de mão com algum pobre infeliz de sua escolha. Não tenho certeza, mas eu apostaria no padre, a última vez que tive notícias, soube que ele faleceu de câncer.

6) Já era noite, e estava começando a cair a temperatura. Felipe perguntou se o avô queria entrar e se cobrir, mas ele respondeu que não. Era engraçado, mas, gente velha sente frio quando está fazendo calor, e sente calor quando está fazendo frio.

- Comecei a trabalhar desde muito cedo. E quando tinha a sua idade costumava passar de porta em porta vendendo muambas. Coisa não muito valiosa, mas o segredo estava na oferta. ''Um colírio para curar sua cegueira, senhora'', ''aqui está um remédio milagroso para curar sua dor na coluna, senhor'', muitos não acreditavam, mas os poucos que acreditavam - e compravam - tinham excelentes resultados. E logo eu estava sendo conhecido na cidade, pela veracidade de meus produtos ditos ''milagrosos''. Era uma época onde as pessoas eram muito supersticiosas, entenda.

- E funcionavam mesmo?

- Não exatamente. Era apenas efeito placebo. O que tinha nos frascos era água com açúcar e um pouco de adoçante para dar o sabor de remédio. O que eu estava fazendo era pegar para mim o problema dos outros. Como meu pai havia feito, curiosidade eu tinha as mesmas habilidades. E assim meus clientes ficavam livres de suas dores. E eu ficava doente. Mas vendia a cura, e isso me rendia um bom dinheiro. Fiz isso durante muito, muito tempo.

- Você estava enganando as pessoas, vovô.

- Sim, e não me orgulho disso. E me orgulho menos ainda do que fiz nos anos seguintes.

7) - Eu não podia ficar com todas aquelas doenças, dores e avarias dentro de mim. Eu morreria certamente, então as despejava dentro de frascos de vidro. Através de meu sangue, como meu pai havia feito comigo. Não sei porque eu guardava aqueles frascos, deveria ter destruído todos eles. Mas infelizmente não fiz isso e lamento profundamente.

- O que você fazia com aquilo?

- Eu vendia. Para pessoas que queriam prejudicar outras. Envenenando-as. Duas moedas por um frasco com diabetes. E três moedas por pedras nos rins. Existem venenos que podem matar rapidamente, mas esses podem ser facilmente detectados e as autoridades saberiam que houve envenenamento. Os meus não, eles se misturavam no sangue e causava doenças comuns que qualquer pessoa pode contrair ao longo da vida. Estava aí a chave do sucesso, ninguém saberia que houve envenenamento e seu algoz sofreria com uma doença desgraçada pelo resto dos seus dias.

- ...

- É terrível. Eu sei. Mas as coisas foram acontecendo e me fulgiram do controle. Por minha causa, muita gente inocente sofreu. Meu corpo era meu instrumento de trabalho, e acabava ficando medonhamente doente em algumas ocasiões, mas eu sempre dava um jeito de inverter a situação a meu favor.

Chico olhou na direção do horizonte e ficou em absoluto silêncio. E Felipe achou que a história havia se dano por encerrado, ele não acreditou 100% em tudo o que ouviu de seu avô, na verdade, não acreditou em muita merda, achou que seu avô tinha ficado senil, pela idade seria bastante compreensível. E como se para confirmar suas suspeitas, Francisco enfatizou um fato que só poderia ser outra de suas alucinações:

- Eu era jovem, meu filho, isso tudo aconteceu há 86 anos, no auge dos meus 22 anos, um rapaz com muito poder nas mãos e totalmente irresponsável.

Felipe parou, pensou e calculou o que deveria ser a idade de seu avô. E constatou, surpreso, que o velho deveria estar com quase 110 anos, talvez um pouco menos. Mas olhando para ele, ninguém daria mais do que 80, por mais que ele aparentasse estar bem velho, não era tão velho assim.

- Existem coisas que o dinheiro não compra, filho, saúde é uma delas. Juventude e inteligência intelectual são coisas adquiridas em vida, entretanto, não podem ser compradas - Disse Chico, ainda olhando para o horizonte, que escurecia cada vez mais nas montanhas - E o que você não pode adquirir, você toma para si.

8) - Bom, rapaz, está ficando tarde, melhor você entrar e fazer o que veio fazer - Disse Chico, levantando-se repentinamente, com bastante agilidade - Ele fica bastante ranzinza a essa hora do dia, então é melhor você ir logo dar-lhe seu banho.

Felipe ficara estupefato.

- Vovô do que está falando?

- Do meu pai, claro.

- Como assim, seu pai?

- Você está aqui para cuidar dele, não está?

- ...

- Não me diga que mudou de ideia.

- Eu… eu estou aqui para cuidar do senhor.

- Ora, eu não preciso de cuidado nenhum. Sou forte como um cavalo - Chico entrou na casa, e momentos depois voltou com uma maleta de couro marrom escuro, uma maleta de vendedor - Sairei para trabalhar e voltarei ao amanhecer. É melhor você entrar e realizar suas tarefas.

Francisco desceu as escadas da varanda e saiu para a noite, prometendo ir ao trabalho. Seja lá o que for que ele chama de trabalho. E Felipe, sem muitas opções, decidiu entrar e ver se realmente existia um ''pai'' a ser cuidado. Ou se de fato seu avô sofria de fortes alucinações.

9) No quarto de hóspedes, uma figura jazia inerente na cama de casal. Um velho muito, muito parecido com Francisco. Um pouco mais velho, talvez, mas muito conservado para sua avançada idade. Esperou a tarde toda para tomar seu banho diário, pois era o melhor momento de seu dia. Mas hoje seu banho não aconteceria, pois quando seu bisneto cuidador entrasse pela porta, levaria um susto tão grande que cairia duro pelo chão. 

Mas Carlos ficou tranquilo, pois a hora da morte de Felipe ainda não tinha chegado. Ele saberia se fosse a hora, pois ele sempre sabe quando é a hora da morte de alguém. Ele vendeu a morte de muitas pessoas durante muito e muito tempo, ele entende bem do assunto. 

Carlos apenas esperou, esperou o menino acordar para dar-lhe seu banho.

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