Abertura:
Há uma estranha criatura trotando seus cascos pela região, seu galopar é barulhento e estava incomodando os moradores do Sítio.
Narizinho estava dormindo profundamente, mas acordou com o barulho que a criatura fazia - a mula estava correndo em volta de um lago, ao luar, como se estivesse brincando consigo mesma - a menina olhou pela janela e enxergou uma chama púrpura no Horizonte, um clarão que a fez pensar em brasas de fogo.
A chama incendiou seus olhos de uma forma arrebatadora, ela a estava queimando, seus olhos brilhavam de calor.
Mas não era dor que alicia sentia, era paixão. A criatura a estava hipnotizando.
Narizinho pulou a janela de seu quarto e foi andando em direção a criatura - que continuava a galopar e a pisar seus cascos em volta do rio. A menina ainda não conseguia enxerga-la, pois era noite e ela estava longe demais. Mas Narizinho continuou avançando, hipnotizada, extasiada, querendo ver com seus próprios olhos quem (ou o que) estava produzindo aquele calor tão intenso e alucinante.
Quando ela chegou perto do lago (onde a mula estava) o calor estava demais, queimava, sim, mas também abraçava, como um amante.
A chama que a hipnotizou não vinha de uma fogueira, nem mesmo de algum incêndio, ou nada que pudesse ter sido feito pelo homem. O calor, e a chama, vinha do buraco onde deveria estar a cabeça da mula, ela cavalgada, pulava e erguia seus cascos em direção a lua; a criatura estava brincando, e queria um companheiro para dividir essa alegria.
Era a mula-sem-cabeça. Narizinho conhecia várias historias sobre ela, contos horríveis que narravam essa criatura cavalgando pela noite, se aventurando, se divertindo, usando sua chama para incendiar pequenas casas; matando o sujeito homem e toda sua família.
Mas Narizinho não acreditava que a criatura pudesse fazer mal a alguém, pelo contrário, a chama dela a estava tomando por completo, abraçando, hipnotizando. A menina estava fora de si, e queria mais daquele calor.
A criatura parou de correr e ficou de frente pra menina. Narizinho avançou mais alguns passos, o fogo queimava sua pele e seu cabelo, mas ela não deu importância, porque a criatura a estava chamando.
E quando a menina chegasse até a mula, às duas dariam um abraço mortal. As brasas da criatura iriam carbonizar a menina, e as duas iriam cavalgar pelos arredores do sítio por toda a eternidade.
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