Sinopse criada por Fofão
O menino que comia livros:
Giorgos é um menino solitário e muito reservado, de aparência esquisita ele vivia no porão de sua casa, pois ali era onde ele lia um livro por dia e após per ele comia todos os livros que terminava, ele acreditava que comendo o conhecimento será eterno e ficará na sua memória para sempre."
Conto escrito por Tang
O menino, que há muito não via a luz do sol, agora reserva para si um tempo de descanso. Após passar a tarde toda lendo um livro intenso, cheio de lutas batalhas e freudianas, sua sinestesia o faz acreditar que ele faz parte dessa aventura translúcida e fragmentada, mas com pausas dramáticas de dor de barriga e vontade de vomitar; acontece que, ao finalizar essa história, ele devorou cada página do livro, mastigando palavra por palavra, e tendo sua visão preenchida por aquele mundo fantástico e imaginário. Em sua cabeça, ele vivia perdida e sonhadoramente.
Seu nome é Giorgos, e sua capacidade de absorver conhecimento através dos livros o faz viver aventuras inimagináveis. Mas, tem um porém, para isso acontecer ele precisa mastigar cada página da história, e literalmente se empanturrar de livros, só assim ele consegue ter uma experiência completa e imersiva. Sua condição é vista pela medicina como algo relativamente comum, pois várias pessoas também possuem a sinestesia, mas, em seu caso, ela é um pouco mais forte do que deveria. Ele consegue sentir o cheiro de cada personagem, a cor de cada objeto, o barulho metálico que faz a espada quando atravessa o corpo dos inimigos; ele sente o calor do fogo expelido pelos dragões, o cheiro do sangue daqueles que estão gravemente feridos, e até mesmo o grito de dor e desespero, quando um personagem está prestes a morrer.
Só tem uma coisa que a sua sinestesia não consegue captar, o "pós-morte"; quando um personagem faz a travessia para o 'outro lado' a conexão é quebrada e Giorgos não é capaz de sentir o que acontece depois; todos os cheiros, todos os gostos, todas as sensações causadas pela sinestesia desaparecem. Após a morte, existe apenas um enorme vazio sem sentido, e essa ideia, por mais que simplória, é alucinante para ele, pois deve haver algo para além da vida, ele apenas não consegue enxergar.
Nessa tarde, tomado pela curiosidade mórbida em saber o que acontece depois que nós morremos, Giorgos pegou um livro interessante na biblioteca da cidade, que se propõe a responder justamente essa questão, "Para Além da Vida" é o nome do livro, e Giorgos pretende devorá-lo o quanto antes.
O livro compõe diversos capítulos que explicam, na teoria, o que seria o "pós morte", e até mesmo responde com questões filosóficas o que seria o céu e o inferno. Nele, há um capítulo muito interessante sobre um inferno repetitivo, chamado "O Paradoxo do Cogumelo", diz que você seria condenado a repetir o pior momento de sua vida, incontáveis vezes, em um loop infinito; Giorgos já estava terminando a leitura, e sua sinestesia ficou mais ativa do que nunca, ele podia sentir o cheiro daquele inferno temporal, ele cheira a fogo e cogumelos. Mas isso não é suficiente para entender exatamente o que seria o pós morte, para isso ele precisa devorar cada página do livro, e ele assim o fez.
De início, ao comer as primeiras 10 páginas, ele teve um acesso de visão tão forte que seu corpo ficou paralisado no chão, ele tremeu um pouco, e percebeu que estava fazendo a travessia para o outro lado, assim como o livro diz que deve ser; a sinestesia, mais forte do que nunca, o fez perder um pouco os sentidos e ele ficou completamente imersivo na experiência de pós morte que o livro descrevia com detalhes, Giorgos sentiu o cheiro dos cogumelos, sentiu o calor do fogo e também uma enorme vontade de repetir exatamente o que ele estava fazendo naquele momento, comer as páginas do livro até se empanturrar. Ele estava no capítulo do Paradoxo, e sua sinestesia o fez acreditar que estava preso a um loop infinito de devorar as páginas do livro incansavelmente, até não poder mais.
E ele devorou cada página do livro, ele viu o céu e o inferno, viu almas em agonia pedindo por piedade e clemência, o "pós morte" não parecia ser tão legal assim. Sem controle do que estava fazendo, Giorgos continuou a devorar as páginas do livro, sua garganta já estava inchada e a passagem de ar ficou completamente coberta, ele estava com dificuldade para respirar.
Era o paradoxo, mas não do cogumelo, e sim "O Paradoxo de Giorgos", um loop infinito onde o menino está condicionado a devorar as páginas incansavelmente, até ficar empanturrado, não poder mais respirar e impossibilitado de respirar.
Após muito engolir papel, Giorgos não pôde mais suportar a falta de ar e a dor intensa na garganta, ele faleceu.
E acordou, desorientado, sem saber onde estava e o que estava fazendo naquele lugar; era o mesmo porão, mas ele não reconheceu. Sua mão fez um movimento involuntário, desceu até o livro que estava jogado em seu colo e arrancou umas 10 páginas de uma só vez, a mão foi seguindo em direção a boca do menino, e o fez engolir tudo, numa só dentada. E isso se repetiu incansavelmente, a mão de Giorgos arrancando as páginas do livro e o obrigando engolir tudo, a força, fazendo o menino se empanturrar e sufocar até a morte. E depois, a situação se repete, incontáveis vezes.
Agora, Giorgos está preso em seu próprio paradoxo temporal.
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