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5) O Ônibus chegou no ponto onde a mulher queria descer; ela assim o fez, pela porta de trás.
Mas não percebeu uma avaria relativamente grande bem na sua frente. A rua estava bastante esburacada em muitas partes, e o ônibus parou com a porta em frente a um buraco dos grandes. Assim que pôs o primeiro pé para fora, uma senhora de idade passou de supetão pela escada, estava impaciente e queria subir logo no ônibus, lhe deu um pequeno empurrão. Sua barriga já estava grande e pesada, o esforço para descer do ônibus, aliado ao impacto do empurrão (por mais que fosse fraco) a fez perder o equilíbrio e cair, na direção do buraco.
Um homem bem-vestido, que corria naquela direção no momento e no tempo certo, parou sua corrida para socorrer a mulher grávida, que iria levar uma bela de uma queda ao sair do ônibus. Por instinto, largou a pasta no chão e caiu de joelhos, entre a mulher e o buraco, ele a segurou antes que ela fosse ao encontro do chão. Foi tudo tão rápido, e tão repentino, que tanto ele quanto ela, mal entenderam o que foi que aconteceu.
Alguns segundos a mais, ou a menos, e ele não teria chegado a tempo para salvá-la.
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Ela teve dificuldade em levantar, estava confusa e desorientada, mas ele a ajudou.
– Puxo, dona, você quase levou um belo de um tombo! – Disse ele, ofegante.
– Cacete! Eu teria perdido meu bebê. Tenho certeza. Se eu caísse nessa droga de buraco teria me quebrado toda. Você me salvou! Salvou meu bebê!
– Não foi nada, foi puro instinto, simplesmente nem pensei em nada, quando vi você caindo, apenas fui na sua direção para te segurar. Foi quase involuntário.
Nesse momento ele franziu um pouco o cenho. De fato, foi confuso, parecia que a ordem de salvar a mulher não partiu dele, e sim de algo além dele, seu cérebro funcionou como uma máquina, daquelas que alguém aperta um botão e ela simplesmente obedece.
De qualquer forma, a mulher estava salva daquela queda. E o bebê também. Ele chegou na hora, e no tempo certo.
– Muito obrigada, nem sei como agradecer! – Disse ela, sorrindo um pouco. Seu coração ainda estava batendo forte, parecia que ia sair pela boca.
– Não foi nada, fico feliz que esteja bem. Vocês dois.
Ele acariciou a barriga dela, sorrindo um pouco. Ela também deu um sorriso, agradecida.
Os dois se despediram e cada um tomou seu rumo, pois estavam com pressa. Ele seguiu a caminho do trabalho, mas dessa vez não correndo tanto, pois de qualquer forma, não chegaria a tempo.
E ela foi a caminho do hospital, que estava logo a frente. Talvez conseguiria fazer a consulta se explicasse para o médico que houve um contratempo, afinal, ele entenderia.
Eles nunca mais se viram.
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6) Os astros voltaram para seu alinhamento inicial, pela lógica dos acontecimentos, o bebê estava salvo, ao menos daquela vez. Bastaram alguns contratempos no caminho do homem e alguns no da mulher, e tudo foi resolvido. Se o acaso tentasse novamente machucar a criança, eles o tentariam impedir, não é certo que consigam, mas valeria pela tentativa, pois toda vida em ascensão é um pedaço do próprio universo.
E cabe aos astros protegê-la.
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7) No dia seguinte, um senhor de idade foi atropelado ao atravessar distraidamente a faixa de pedestres. Seus pés, que já não funcionam mais como antigamente, falharam entre o degrau da calçada e a rua, o fazendo tropeçar e cair com tudo no chão.
Um carro vinha em toda velocidade naquela direção, não deu tempo de pisar no freio. Foi rápido e repentino. O acertou em cheio.
Ele não sofreu. Nem mesmo viu quem ou o que o atingiu. Simplesmente se foi.
Uma vida, por uma vida.
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