A carreira de Gilberto Braga

 

POST FEITO POR LEONARDO  COMENTARISTA E NOVELISTA

Todos sabemos que o nosso eterno Gilberto Braga tem um ótimo currículo (mesmo com alguns trabalhos esquecidos), mas você já se perguntou quando ele começou e qual foi o primeiro trabalho? Pois bem! nesse texto, iremos falar sobre toda a trajetória do eterno Giba, dos anos 70 até Babilônia.

Em 1972, ele estreou como autor televisivo, assinando um episódio do já extinto programa da Rede Globo ‘’Caso Especial’’, chamado de ‘’Dama das Camélias 72’’, e durante o ano de 1973 assinou mais alguns episódios para o programa, como ‘’As Praias Desertas’’ e ‘’Feliz na Ilusão’’.
Sua desenvoltura e rapidez na escrita dos episódios chamaram a atenção do diretor Daniel Filho, então o mesmo convidou Giba para assinar junto com Lauro César Muniz, a autoria da novela das 19h ‘’Corrida do Ouro’’, exibida em 1974. Entretanto, ao decorrer da trama, Lauro teve que se afastar para estrear a sua trama das 21h, e por não estar habituado ao ritmo de escrita da televisão, Giba chegou a desistir da novela, mas foi impedido por Daniel Filho, que falou da situação com a ‘’Maga das oito’’, Janete Clair, e por ser uma admiradora dos diálogos de Gilberto, se ofereceu para supervisioná-lo. Para reinagurar a faixa das 18h, Gilberto adaptou dois livros para a TV, o primeiro sendo ‘’Helena’’, de Machado de Assis (responsável por reinagurar em 1975 e tendo uma versão na manchete, em 1987), e ‘’Senhora’’, de José de Alencar.
Em 1975 ainda, escreveu junto com Janete Clair a novela das 19h ‘’Bravo!’’, e do mês de novembro até o fim, assumiu sozinho, já que Janete saiu para escrever a trama das 21h ‘’Pecado Capital’’.
Porém, Gilberto só conheceu o fenômeno em 1976, quando adaptou para a TV o livro ‘’Escrava Isaura’’, de Bernardo Guimarães. A novela fez tanto sucesso, que até a década de 2000, era uma das mais exportadas da Globo, chegando a ter premiação na China. Além disso, a novela revelou a atriz Lucélia Santos.

Em 1977, sem ideias de tramas de época, Gilberto escreveu a primeira trama moderna da faixa das 18h, ‘’Dona Xepa’’, que é uma adaptação teatral de nome homônimo, de Pedro Bloch. Com o fenômeno dessa novela, Gilberto Braga foi promovido para o tão importante horário das 21h em 1978, e a sua primeira novela foi o grande clássico ‘’Dancin Days’’, escrita a partir do argumento inicial ‘’A Prisioneira’’, de sua ‘’mestra’’, Janete Clair. Foi a sua primeira novela sem ser uma adaptação para a TV. A novela foi um fenômeno tão grande que popularizou a discoteca pelo país todo, além de ditar moda. A sua trilha internacional, com vários hits das discotecas, foi uma das mais vendidas, e sendo a mais vendida em sua época, atingindo mais de um milhão de cópias, ultrapassando a trilha de ‘Estupido Cupido''.



Em 1980, Gilberto escreveu mais um sucesso, Água Viva. Nesta novela, ele abordou o cotidiano da classe alta no litoral e o Windsurf. A novela também causou polêmica por conta do topless e mostrou pela primeira vez na TV brasileira, o uso de maconha, e também foi a primeira novela em que ele usou o ‘’Quem matou?’’, matando Miguel Fragonard. Mas, como nem tudo são flores, alguma hora o fracasso tinha que vir, não é mesmo? Pois bem! Na novela seguinte, brilhante (1981-82), ele decidiu discutir a homossexualidade masculina e romance entre pessoas de idades diferentes. Além disso, brilhante foi acusada de plágio de livros e filmes norte-americanos, e enfrentou problemas de audiência e com a censura federal, que fizeram com que a história tivesse várias alterações.
Em 1983, escreveu o único sucesso dos anos de crise no horário nobre (1981-1984), ao fazer a novela Louco Amor. Entretanto, a novela teve que ter a sua estreia adiantada, pelo fato de sua antecessora, Sol de Verão, ter sido encurtada pela morte do ator Jardel Filho, e entre elas, houve o compacto de ‘’O Casarão’’(1976). Por conta de várias cenas de violência e insinuações de sexo, foi reclassificada a partir do dia 30/06/1983, de maiores de 12 para maiores de 14, o que fez que ela começasse diariamente ás 21h e tivesse capítulos mais curtos.
Em 1984, escreveu Corpo a Corpo, uma trama que fala de pacto com o demônio, inspirada no mito alemão ‘’Fausto’’. Também, abordaram um casal inter-racial, com Zezé Motta e Marcos Paulo. Segundo Zezé, na época houve um grande preconceito do público, e o casal não foi aceito.
Em 1986, Gilberto escreveu uma das minisséries mais conhecidas: Anos Dourados. Abordando o Rio de Janeiro dos anos 50, usando a tática do ‘’Quem matou?’’, sendo 4 episódios antes do fim, matando o personagem Olivério, dono de uma boate em Copacabana.
Em 1988, Gilberto parou o país com ‘’Vale Tudo’’, com o grande mistério de ‘’quem matou Odete Roitman’’, que mobilizou o país em plena véspera de natal. Além disso, temos várias cenas marcantes nela, né? Como a Maria de Fátima se jogando da escada do teatro, Raquel descobre que Maria de Fátima vendeu a casa, Elas se encontrando na praia com a Raquel vendendo sanduíches bem transados, e muitas outras que não vou citar para não ocupar espaço.



Em 1990, Gilberto escreveu alguns capítulos de ‘’Rainha da Sucata’’, substituindo Sílvio de Abreu, que teve que se afastar por problemas pessoais.
Em 1991, Gilberto Braga conheceu o fracasso novamente com ‘’O Dono do Mundo’’. Além da novela ter Carrossel como uma forte concorrente, o próprio diz que pesou a mão na crítica social, o que também foi um dos fatores alegados pelo seu fracasso. Entretanto, com o passar do tempo, a novela foi ganhando status cults, e em 2014 ganhou uma reprise no canal viva, onde conseguiu levar o canal pago à liderança.
Em 1992,  fez mais uma minissérie memorável. Dessa vez, ele decidiu ambientar na época da ditadura militar, e usando os personagens na luta armada. Uma curiosidade sobre ela é que, do episódio 11 ao 14, Gilberto teve que reescrever. Segundo Boni, Gilberto havia exagerado na parte política e deixado o fio condutor da trama, o romance, de lado.
Ainda em 1992, Gilberto e Leonor Bassères escreveram alguns capítulos da novela ‘’De Corpo e Alma’’, pelo fato de Glória Perez ter sido afastada pelo assassinato de sua filha.
Em 1994, um dia após o tetracampeonato do Brasil, estreava ‘’Pátria Minha’’, a última da trilogia das suas novelas que criticam o Brasil. Nessa novela, abordou as questões de moradia, racismo, adultério, virgindade (que já foi abordado em O Dono do Mundo). Além disso, houve as tretas nos bastidores entre Vera Fischer e Felipe Camargo, que levou ele a serem afastados da novela.
Em 1998, mobilizou o Brasil com a minissérie Labirinto e o mistério do ‘’Quem matou Otacílio Martins Fraga?’’.
No último ano do século XX, Gilberto escreveu a obra que seria uma das mais amadas pela crítica e se tornou uma obra cult: Força de um Desejo. Uma novela que atualmente está em reprise no canal VIVA, infelizmente foi um fracasso na época, mas com o passar dos anos foi ganhando reconhecimento, e até ganhou uma reprise em 2005. E nessa novela, também foi usado o ‘’Quem matou?’’, que ocorreu no capítulo 155 (sem spoiler para quem tá vendo no VIVA).
Depois de uma década de 90 com poucos sucessos, Gilberto chegou na década de 2000 com uma de suas obras mais cultuadas: Celebridade, uma novela que misturou o povão com o glamour. Quem não se lembra de Laura Prudente da Costa e Maria Clara Diniz? uma das maiores rivalidades da TV. E ainda por cima, a novela parou o país para saber: ‘’Quem matou Lineu Vasconcelos?’’. Entretanto, Celebridade marcou o fim da parceria Gilberto Braga e Leonor Bassères, essa morrendo durante a trama e sendo substituída por Ricardo Linhares, que virou a parceria de Gilberto dali para frente. 



Em 2007, Gilberto e Ricardo escreveram ‘’Paraíso Tropical’’, uma novela que contava a história das irmãs Taís e Paula. Porém, a novela não começou aquelas coisas na audiência, fracassando bastante nos primeiros meses chegando a ficar bem abaixo da meta de 45 pontos. Com mudanças, a novela foi conquistando público e conseguiu reverter a rejeição inicial. Aqui, foi também usado o ‘’Quem matou?’’, dessa vez, matando a personagem Taís Grimaldi, no capítulo 154.
No começo da década de 2010, Gilberto e Linhares escreveram Insensato Coração. Primeiramente, foi uma novela que teve problemas de escalação, e o mais famoso foi o de Ana Paulo Arósio, que estava gravando a novela, mas de uma hora para a outra sumiu e não deu notícia, e assim Paolla Oliveira assumiu o papel da protagonista Marina. E apesar dos pesares, a novela foi conquistando o público, e novamente foi usado o recurso do ‘’Quem matou?’’, sendo na última terça-feira da novela, quando o público se deparou com Norma Pimentel sendo assassinada. Além disso, a trama brecou a queda de audiência que estava havendo de novela a novela desde Senhora do Destino.
E por fim, a derradeira e última novela de Giba, Babilônia. Uma novela que começou com altas expectativas, chamadas que cativaram o público, mas logo no começo, já foi rejeitada.
Logo no primeiro capítulo, tivemos a cena do beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, e já foi o suficiente para a novela sofrer preconceito e cair na audiência.

 

Pois é, e infelizmente Gilberto Braga não conseguiu se despedir com uma novela melhor, pois no dia 26 de outubro de 2021, morreu aos 75 anos de idade, vítima do mal de Alzheimer, além de uma infecção sistêmica decorrente de uma perfuração no esôfago.

Gilberto Braga sempre será eterno pelas suas obras atemporais e seu jeito sincero e autêntico, sempre estará em nossos corações.