BBB10: uma aula de como ser atemporal.

Tang
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Existem dois tipos de edições, aquelas que são datadas, muito marcadas pela época em que foram exibidas, tornando-se enfadonhas na maioria das vezes; e aquelas que são atemporais, podendo ser exibidas em qualquer ano, de qualquer época, que ainda assim elas seriam compreendidas pelo público em questão. Edições datadas normalmente são esquecias pelo grande público, pouco lembradas ou faladas. E quando são mencionadas, é carregando um sentimento enorme de nostalgia, que tem muita relação com o tempo em que ela foi exibida.

Edições atemporais, por sua vez, serão sempre lembradas e mencionadas em assuntos diversos, onde são debados temas polêmicos que abrangem todo um âmbito politico, social e até religioso. Isso faz com que esse experimento social chamado Big Brother Brasil tenha um real significado para existir. Uma vez que seu objetivo é monitorar exatamente como o público se comporta ao se deparar com determinadas situações do cotidiano moderno.

Mas o que faz uma temporada ser atemporal?

Conheça o BBB10


Nós tivemos nessa edição o que eu considero o melhor elenco de um reality show da história. E não é exagero meu. São muitos personagens carismáticos, com personalidades únicas e fortes. Todos com muitos bordões e frases de efeito. Garantindo assim um dos maiores shows de entretenimento que já tínhamos visto em um BBB.

O elenco do BBB10 foi dividido em cinco tribos distintas, sendo elas cabeças, sarados, ligados, coloridos e belos. O que garantiu uma diversidade enorme de pessoas e personalidades. Cada um com seus conflitos. 

Na tribo dos sarados: Carlos Eduardo (Cadu), Claudia (Cacau) e Eliane (lia). E posteriormente entraria Marcelo (Dourado) para fazer parte da equipe; na tribo dos belos: Eliezer, Fernanda e Willian. Posteriormente entraria Joseane para fazer parte da equipe; Na dos cabeças eram Alex, Tessália e Elenita (Lena); os coloridos eram Angélica (Morango), Serginho e Dicesar. E por fim, os ligados eram Anamara (Maroca), Michel e Ana Marcela.

O BBB10 apostou em diversidade. Uma aposta que deu muito certo!


Discussão de igualdade de gênero e o início do que seria o futuro do BBB.

Se hoje temos o feminismo virando pauta em praticamente todas as temporadas depois que se inaugurou o novo formato do programa; fora o enorme crescimento das redes sociais que engajaram muito esse tipo de militância em todas as mídias, isso se deve muito a essa edição que foi quando tudo começou a ser debatido. Incluindo o papel da mulher na sociedade. Essas discussões se deram início, pois uma participante em específico trouxe esse assunto sempre que era necessário. Tentando a todo custo fazer os homens entenderem que certas atitudes direcionadas a uma mulher não era, digamos, politicamente corretas.

Elenita Rodrigues, era abertamente feminista, em uma época que esse assunto mal era debatido na mídia e o grande público nem mesmo compreendia seu significado. Por causa disso, ela foi extremamente mal compreendida, foi chamada de louca e surtada por aqueles que não compreenderam seu posicionamento mais progressista. Hoje, nós sabemos que ela estava extremamente a frente de seu tempo.

Um exemplo claro dessa situação foi a icônica briga que ela teve com Elieser e Alex, para defender Maroca. Ela percebeu a forma violenta e covarde que uma outra participante estava sendo tratada pelos homens da casa e não pensou duas vezes em comprar a briga para ela, mesmo sem ter nada a ver com a situação; mas seus discursos letrados eram complexos demais para serem entendidos pelos outros participantes. Quase ninguém entendeu sua atitude, ela, na verdade, estava defendendo uma mulher de ser agredida por um homem que tem duas vezes seu tamanho.

E em mais uma demonstração do quando era inteligente e a frente de seu tempo, Lena relatou uma situação de violência que sofreu em um relacionamento toxico que viveu anteriormente. O papo era com outras mulheres da casa e ele se estendeu bastante, até que as outras meninas também começaram a desabafar sobre outras violentes que elas haviam sofrido. 

Mas nem só de brigar com macho vive uma feminista, Lena provou diversas vezes ser muito coerente em seu posicionamento quando ficava, sim, contra outras mulheres da casa que mereciam ouvir umas verdades quando era necessário. Lena também tinha uma visão muito assertiva do jogo, e percebia com muita clareza quando outro participante tentava criar uma confusão só para aparecer na edição do programa. Foi exatamente isso que a Lia Khey tentou fazer, mas como a Elenita não gostava nem um pouco de fazer esse tipo de cena, tratou logo de acabar com a pose de boa moça da Lia.

Algo que faltou em algumas mulheres das edições atuais, que se defendiam e se protegiam acima de qualquer coisa, mesmo quando estavam erradas.


Todo o comportamento de Lena, por mais que tenha sido injustamente repreendido pelo público da época, demonstrava uma perspectiva totalmente a frente de seu tempo, uma vez que, nas temporadas atuais, as mulheres começaram a tomar um posicionamento mais feminista com relação ao comportamento dos homens da casa (menção honrosa ao BBB20), coisa que a Elenita já tinha feito a 12 anos atrás. Mas não teve o reconhecimento merecido. 

Discussão de sexualidade e a diversidade de modo geral.

Novamente Lena se destacou, demonstrando com muita clareza que era muito perspicaz quando o assunto era sexualidade e opressão. Ao que parece, ela é capaz de ficar contra a própria família para defender alguém que estivesse sendo oprimido por ser gay ou lésbica. E ainda exemplificando que, durante sua vida acadêmica como professora, ela vivenciou diversos episódios de homofobia por parte de seus alunos. 


O BBB10 ficou marcado pela participação icônica dos coloridos, que eram Morango, Dicesar e Serginho. Três personalidades marcantes que foram essenciais para a história do programa.

Uma vez que o grande favorito da edição, Marcelo Dourado, proferiu diversas falas problemáticas na direção dos coloridos ao longo do programa. O que gerou uma polêmica enorme e muita controvérsia durante a edição. Questões sobre sexualidade foram levantadas e isso foi debatido em pleno 2010, uma época que isso não era falado nem mesmo na internet. Os coloridos foram importantes para que isso entrasse em pauta em todas as mídias para além do programa.


E por incrível que pareça, todos eles ganharam a simpatia do grande público. Um público que ainda era muito preconceituoso, machista e homofóbico. Mas o carisma dos coloridos falaram mais alto, e deram o nome, tornando-se grandes favoritos na casa. Tanto é verdade que houve uma enorme comoção entre o público da época, isso por que ninguém queria Serginho e Dicesar se enfrentando no mesmo paredão. Eles eram muito queridos e incrivelmente tiveram a boa aceitação do público.

O discurso do Bial foi direcionado ao fato deles serem dois homossexuais numa sociedade totalmente preconceituosa, e por isso, talvez, eles sejam pessoas solitárias e carentes de afeto, talvez tenham uma fragilidade interna enorme e uma vontade quase que instintiva de estar perto de suas respectivas “mães”. Serginho (Peter Pan), sendo esse menino que não cresceu, está sempre procurando uma mãe para ser cuidado e protegido; e Dicesar (Dorothy), sendo ele um homem feito, mas de coração machucado, está sempre buscando o caminho de volta para casa, para ficar perto de sua mãe.

Sem dúvidas, um dos melhores textos que Bial já desenvolveu para o programa.


A participação dos coloridos foi um marco para o programa e para sua época, pois na mídia brasileira, pouco era o destaque direcionado para o público LGBT. Os que tinham algum destaque, eram em programas de humor, sendo frequentemente feitos de chacota. Porém, no BBB10 nós tivemos personagens marcantes e reais. Humanizados. Mostrando para o público da época que acima de qualquer coisa, eles eram pessoas. E se hoje nós temos um Gil do Vigor fazendo história em sua respectiva edição, esse mérito eu dou ao BBB10.

Dois lados de uma moeda. O maior enredo da edição.

Ao juntar todas as características ditas anteriormente, nós temos suma divisão exata na casa, de um lado o grupo ''colorido'', composto por Dicesar, Fernanda e Maroca. E de outro nós tínhamos o grupo dos ''sarados'', Dourado, Cadu e Lia. A guerra que já vinha se formando desde o início, se estabeleceu de verdade quando maroca foi eliminada, gerando uma enorme revolta em Dicesar.

Ele viu que seu grupo estava ficando enfraquecido e cresceu pra cima de Dourado, pois, segundo ele, Dourado ''era um homem sem fé''.

Uma semana depois, percebendo que estavam em desvantagem em relação à quantidade de votos na casa, Fernanda e Dicesar teceram um dos planos mais inteligentes de todos os BBBs, sendo a líder da semana, Fernando indicaria seu próprio aliado ao paredão, obrigando que o trio dos sarados votem entre si no confessionário, dessa forma eles não teriam o gostinho de votar em Dicesar. Foi uma atitude muito bem pensada, pois garantiu o segundo lugar para Fernanda. Mas para Dicesar não foi tão bom assim, já que ele foi eliminado nesse paredão, contra seu maior rival.


Dourado levou a melhor nessa disputa, sendo o favorito da edição e carregando uma das maiores torcidas que já se viu no programam, a ''mafia dourada'', pessoas que se identificavam com o discurso anti-progressista de Dourado e seu posicionamento insistente contra o politicamente correto que Dicesar representava nessa edição. O que estávamos vendo era uma disputa polarizada entre esquerda e direita. Conservadores vs progressistas. Sarados vs Coloridos.

Nessa disputa, os sarados levaram a melhor.


E o mesmo enredo viria a se repetir no BBB20, onde tivemos uma certa disputa entre homens e mulheres, progressistas e conservadores. A exemplo do paredão histórico entre Manuela e Prior, que acima de tudo, representava a polarização esquerdista que vemos no Brasil, e a direita tentando lutar contra isso.

Mas, dessa vez, os coloridos levaram a melhor.
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