"Rose madder" foi um livro escrito pelo prolífico Stephen King, que fechou a famosa trilogia feminista escrita pelo autor nos anos 90, sendo os dois primeiros romances Jogo Perigoso (conferir nossa resenha) e Dolores Claiborne (Confira também), se antes ele buscou abordar temas mais íntimos e polêmicos como o abuso infantil e a alienação parental, dessa vez ele foi um pouco mais incisivo em sua abordagem feminista e resolveu tratar de um assunto bastante discutido na sociedade em geral, a agressão contra a mulher.
"Sou realmente Rosie, e Rosie muito real. É melhor acreditar, sou mesmo sensacional".
Rose Daniels estava casada com seu marido Norman há 14 anos, quando casou-se achou que estava vivendo um sonho encantado com seu grande amor, Norman era um homem bonito, charmoso e sedutor, que sabia seduzir e manipular as pessoas como ninguém. Mas não demorou para que o sonho virasse pesadelo quando já em sua lua de mel, Rose fora agredida por seu, até então, cônjuge, por um motivo banal e sem muita importância. Na ocasião, nossa heroína achou que aquilo poderia ter sido um acesso de paixão ou uma forma estranha de Norman em demonstrar seu amor e carinho, mas não era bem a verdade, durante os longos anos que passou ao lado daquele homem, ela descobriu que, na verdade, Norman era completamente doente e que gostava de agredir mulheres sempre que tinha vontade.
Norman era policial e sempre disse para Rose que todos os policiais são irmãos e trabalham juntos, o que significa que Rose não tinha a opção de denunciar Norman para as autoridades, já que ele certamente não sofreria as consequências da lei e sem a menor sombra de dúvidas a faria se arrepender amargamente por se quer pensar em denunciá-lo. As agressões de Norman passam do ponto do tolerável e ele só não a matou, porque sempre tomava cuidado de acertar os lugares certos do corpo de Rose para machucá-la, mas não para matá-la. Para além de agressões verbais e físicas, aconteciam também agressões sexuais, houve uma ocasião em que ele a estuprou usando uma raquete de tênis. Além de agredi-la com ela.
Foram quatorze anos suportando esse inferno até onde foi possível. Até que certo dia, após levar mais uma de suas habituais surras, Rose percebe uma pequena mancha de sangue no lençol de sua cama, era sangue que tinha respinhado de seu nariz. Ela percebeu que Norman provavelmente a tinha machucado não só por fora, dessa vez tinha sido por dentro também. E se continuar assim ele poderia matá-la a qualquer momento.
Mas e se não matar?
Rose aguentaria mais quatorze anos daquele inferno?
Foi pensando sobre isso que Rose tomou a decisão de fugir daquela situação custe o que custar. Ela chegou a conclusão que morrer seria ruim, mas aguentar um dia a mais ao lado de Norman seria muito pior. Saiu de casa apenas com sua bolsa e a roupa do corpo (e também o cartão de crédito de Norman que ela roubou de sua carteira). Rose Daniels fugiu de casa e saiu perambulando pelo mundo completamente sem rumo. Mas agora estava livre.
Estava mesmo?
É um livro pesado, repleto de cenas gráficas e sem filtro, o autor mostra os mais diversos tipos de agressões que uma mulher pode sofrer por parte de um homem. E não tinha como ser diferente considerando o tema dessa obra. Gostei muito do livro, apesar de achar que seu ritmo lento possa atrapalhar até certo ponto a fluidez da leitura. Rose é muito carismática, simpática, apaixonada, ela tem uma vontade de viver enorme e isso cativa o leitor e nos faz torcer para que ela consiga escapar das garras de Norman e finalmente ser feliz. Mas as cenas que mostram a narrativa sob a perspectiva de Norman, essas achei que foram arrastadas além da conta, foi uma técnica de escrita para nos mostrar o quanto o personagem é maluco e doente nos fazendo saber exatamente o que se passa em sua cabeça (e saber com detalhes as barbaridades que ele pensa, passando pelo racismo, indo até a homofobia e terminando no machismo), mas achei deveras repetitivo e na segunda vez que o autor insistiu em detalhar a história sob essa perspectiva, eu já estava cansado. O problema é que foi assim o livro inteiro.
Mas a parte de Rose é encantadora, me fez amar o livro e até sentir um gostinho de quero mais. Essa é sem dúvidas a protagonista feminina mais carismática criada pelo autor (superando talvez sua favorita, Holly). Após fugir de Norman, por intermédio do destino, Rose foi parar em um abrigo feito por mulheres e para mulheres chamado "Filhas e Irmãs", essas mulheres a acolheram, lhe deram casa comida e até mesmo um emprego, para que ela pudesse iniciar uma nova vida longe de seu marido agressor. Aqui vemos uma boa mensagem de sororidade feminina passada pelo autor. E foi nessa tentativa de reabilitação que Rose conhece Bill, homem que viria a se tornar o grande amor de sua vida, aquele que a faria esquecer Norman para sempre.
Há uma trama sobrenatural nesse livro que apesar de ter achado muito interessante, acho que podia ter passado sem essa, focado apenas naquilo que é real naquele universo rico criado pelo autor. No mesmo local que Rose conhece Bill, um antiquário de antiguidades, ela encontra um quadro muito interessante que mostrava uma amazona da antiga Grécia olhando para um templo que estava para além do horizonte. Rose fica hipnotizada e apaixonada pelo quadro, e o comprou na mesma hora, sem saber que esse quadro seria a chave para libertá-la de seu agressor de uma vez por todas. Uma forte influência sobrenatural estava vindo ao auxílio de Rose. Estava vindo e sairia diretamente daquele quadro.
O desfecho é interessante. Mas achei tudo muito corrido, mesmo após desenvolver essa história por quase 500 páginas, quando chegamos nos 'finalmentes', isso é, a batalha final de Rose Madder vs Norman Daniels, nem mesmo foi a própria Rose que o derrotou. E essa derrota aconteceu em meio página do livro, após toda uma perseguição estilo gato e rato que deve ter tomado cinco ou seis páginas do livro. Acho que o autor perdeu um pouco a mão ao juntar história real com sobrenatural. Senti até mesmo uma queda no carisma das personagens. Mas isso não tira o mérito do livro, que em sua totalidade, é quase uma obra-prima.
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