"Se um homem pudesse ter metade dos seus desejos realizados, teria mais aflições do que prazeres."
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Rendall Clark teria um longo dia pela frente, pois tinha muitas tarefas a cumprir. Sua fazenda, que foi recebida por ele há pouco tempo, estava praticamente caindo aos pedaços e ele precisava resolver esse problema.
Seu falecido avô, que morrera de um tipo raro de câncer, o deixou como o principal recebedor de sua herança, e essa herança era aquele pedaço de terra (que não era dos melhores) mas ao menos era alguma coisa. Rendall Clark não tinha onde cair morto, e aquele presente havia chegado em boa hora.
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Ele acordou bem cedo naquele dia, era 08 da manhã, mas já fazia muito calor, seria um dia cansativo, sim, mas ele estava feliz, pois estaria cuidando do seu próprio pedacinho de chão.
A casinha da fazenda é muito simples, feita de madeira antiga, mas que estava praticamente coberta por cupins, algumas partes estavam ppdres devido as fortes chuvas e a ação do tempo, ele teria que troca-las rapidamente, para evitar um possível desabamento.
Os móveis da casa também eram todos de madeira, bem antigos, pesados, hoje não valem praticamente nada, se ele conseguir uma boa grana, trocará os móveis de todos os cômodos.
Mas o pior de tudo é que a casa cheira a podridão e gente velha, Rendall detesta esse cheiro.
Não tem animais na fazenda, todos morreram após o falecimento de seu avô, Gilberto Clark, quando o velho adoeceu não tinha mais ninguém para cuidar das vacas, dos porcos e galinhas que viviam ali, todos haviam morrido de fome. Gilberto ficou tão debilitado que nem mesmo conseguia alimentar os animais da fazenda.
Rendall lamentou-se muito, gostava bastante de galinha assada, mas não sobrou nenhuma.
Ele colocou seu macacão de trabalho e saiu para o quintal da fazenda, estava uma bagunça. O celeiro havia perdido o telhado numa tempestade, foi no mês passado, pouco antes dele ocupar o terreno, Rendall teria que troca-lo, ou não poderia nem pensar em comprar novos animais – talvez alguns porcos, vacas também.
A cerca de madeira, que protegia seu terreno contra ladrões e invasores, estava derrubada, a maior parte destruída, provavelmente por algum arruaceiro, ele teria de resolver isso também.
As plantações estavam mortas, seu avô havia plantado batatas, feijão e abóboras, e também vários tipos de ervas, mas a falha de água (e o forte sol do último verão), acabou matando todas elas. Rendall teria que plantar tudo outra vez se quisesse comer.
Ele suspirou, olhou em volta com autêntico cansaço, restaurar aquela fazenda daria um trabalho dos diabos!
Abertura;
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Era meio dia, ele já tinha tirado metade da sujeira que estava acumulada na entrada principal, mas ainda havia muito trabalho a ser feito.
Pegou a pazinha de jardinagem e foi caminhando até as plantações. Estava carregando um saco de sementes na mais direita, eram sementes de baratas, proteína pura, algo que o manteria alimentado durante muito tempo. A área de plantações é bem grande, mas estava morta, à terra estava seca e rachada. Seria impossível plantar qualquer coisa ali sem antes hidratar o solo.
Ele precisa de água, muita água, lembrou que nos fundos da fazenda existe um poço muito antigo, que serviu durante muitos anos todos os moradores que passaram por ali. Mas não tinha certeza se o poço havia sido construído por seu falecido avô, achou que não, ele sabia que aquele pedaço de terra estava ali há bastante tempo, provavelmente o poço fora construído pelos primeiros donos do terreno, talvez há 120 ou 130 anos.
Rendall deu a volta na casa, no meio do caminho pegou dois baldes grandes que pertenciam a seu avô, do tipo antigo, feitos de metal, havia também uma corda velha no chão do quintal, ele a pegou e seguiu caminhando até a parte de trás do terreno.
A vegetação ali tomou conta de tudo, o mato estava bem alto, quase cobria a visão do poço, mas ele o avistou com certa facilidade, ainda era jovem e enxergava muito bem.
– Diferente do meu avô, que morreu de câncer nos olhos – ele pensou, com certa morbidez.
Chegou ao pé do poço. Colocou os dois baldes no chão e foi para pegar a água. Percebeu que havia uma tampa grande de madeira protegendo a boca do poço, ele a puxou com força, era pesada, mas foi tirada rapidamente, Rendall é um homem forte.
A água estava limpa, completamente cristalina, a tampa de madeira havia protegido contra qualquer sujeira que poderia ter caído dentro do poço ao longo dos anos. Ele ficou olhando durante um longo tempo, quase hipnotizado, o poço era bem fundo, a base era feita de pedras grandes, que desciam em sentido espiral, estavam inteiramente cobertas de limo verde.
O fundo do poço era completamente escuro, pois a luz do dia não alcançava aquela parte, mas havia alguma coisa no centro da água que chamou sua atenção, uma coisa dourada, brilhando lá no fundo.
Ele ficou olhando por alguns momentos, tentando identificar que objeto era aquele, após alguns instantes a resposta veio a sua mente;
— É uma moeda de ouro! – ele disse, em alto e bom som – como pode brilhar tanto?
Ela brilhava muito, pequena e redonda, aquilo chamava sua atenção, pois o poço estava completamente escuro, mas o brilho da moeda não sumia. Aquilo era ouro, ele não teve dúvidas.
— Não pode ser efeito do sol, a luz do dia não chega lá embaixo! — Rendall estava maravilhado.
Decidiu que queria a moeda e daria um jeito de pega-la.
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Ele voltou caminhando até a casa da fazenda, esquecendo completamente que tinha tarefas a cumprir.
Entrou com pressa e foi direto até a cozinha, em busca da caixa de ferramentas. Quando a encontrou ele mexeu lá dentro até achar o objeto pesado e escuro que havia no fundo da caixa, era um ímã, Rendall o usaria para pescar a moeda.
Ele saiu da casa carregando o ímã numa das mãos. Fez novamente o trajeto até o poço, nos fundos do terreno.
Estava animado, aquela era uma bela moeda de ouro, provavelmente muito antiga, pensou em vendê-la, certamente iria conseguir uma boa grana por ela. Era seu dia de sorte.
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Estava novamente ao pé do poço, ele pegou um dos baldes de metal e encaixou o ímã bem no centro, aquilo iria pescar facilmente a moeda, amarrou a corda no balde e o jogou no poço. De primeira, ele ficou boiando na superfície da água, mas, conforme a água foi cobrindo o balde, ele afundou, cada vez mais rápido.
Rendall observava com ansiedade.
O balde demorou ao todo quase dois minutos para alcançar o fundo, isso mostra que a profundidade do poço é muito grande.
Rendall foi manipulando a corda, para que a moeda entre em contato com o ímã, que estava preso no centro do balde. Após alguns momentos ele sentiu uma pequena pressão, quase minúscula, mas achou que finalmente conseguiu pegar a maldita moeda.
Ele puxou a corda, com força, após alguns instantes o balde emergiu das águas.
Despejou todo o conteúdo do balde de volta no poço, ele só queria a moeda.
Ela estava presa na parte de baixo do balde. Ele a soltou do ímã e ficou observando.
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A moeda era dourada. Um dourado bem bonito, que estranhamente não foi corroído pelo tempo, estava como novo. É mais grossa que o normal, e um pouco mais pesada também, apesar de ser do tamanho de uma moeda comum. Ela brilhava bastante.
Os dois lados da moeda não eram comuns, num dos lados tinha o desenho de um olho, ele cobria toda a anatomia da moeda, era em alto-relevo e no centro havia uma iris vermelha. Rendall percebeu que a moeda tinha um efeito ilusório; quando você a movia para a esquerda, a íris do olho virava para o lado oposto, e vice-versa, era estranho que um objeto tão antigo tivesse uma dinâmica tão moderna. Rendall se perguntou se não era sua imaginação lhe pregando uma peça, achou que não.
O outro lado da moeda não tinha nada desenhando, apenas algo escrito, em letras legíveis, parecendo que foram escritas a mão, havia a seguinte frase;
"Faça um pedido, mas tome cuidado com o lado oposto!"
Rendall estava confuso, virava a moeda, olhava para aquele olho estranho — que o olhava de volta – e virava a moeda novamente, lendo a frase várias vezes.
— O que significa isso? – ele se perguntou — "Faça um pedido, mas tome cuidado com o lado oposto!”, o que é o lado oposto?
Ele tornou a virar a moeda, e percebeu de imediato que o lado oposto só podia ser o olho, aquele que parece se mover, conforme você manipula a moeda.
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Rendall Clark achou graça, estava um pouco assustado, mas não sabia exatamente o por quê; apenas não queria ficar olhando para o olho durante muito tempo.
Ele virava a moeda para o lado que tinha um escrito, ele gostava daquele lado.
"Faça um pedido", ali dizia. Sim, ele tem muitas coisas para pedir, olhou em volta e observou seu terreno, estava destruído pelo tempo; a casa parecendo um abrigo para mendigos, ele desejaria ter grana para poder consertar tudo que estava quebrado, comprar muitos animais e fazer uma grande plantação. Transformar aquilo numa grande fazenda, sim!
"(...), Mas tome cuidado com o lado oposto"
Era o que dizia o restante do escrito, Rendall achou que essa frase estava se referindo ao olho ilustrado no outro lado da moeda, ele ficou inquieto, pois de fato não gostava de olhar para o olho durante muito tempo, sentia um certo frio na barriga, uma inquietação.
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Mas Rendall se obrigou a não ter medo, pensou que aquilo não passava de uma brincadeira de criança, alguém tinha usado o poço para fazer desejos, a moeda era a prova disso, era só isso.
– Mas quem iria jogar no lixo uma moeda de ouro? – ele se perguntou, ainda segurando a moeda na mão direita.
O olho o assustava. Tinha algo de errado com aquela figura. Ele estranhamente parecia estar olhando pra você, quando você o encarava. E, por alguns intantes, ele achou que a moeda estava vibrando em sua mão, uma energia pesada, mas quase imperceptível.
Rendall colocou os pensamentos em ordem, afinal, aquilo não passava de uma moeda, não era nada de mais, ele a venderia na cidade, certamente conseguiria uma boa grana por ela.
Mas antes...
Ignorando a inquietação que estava sentindo, e tentando se convencer de que nada de anormal iria acontecer; ele fechou os olhos, agarrou com força a moeda, e se preparou para fazer um pedido...
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"Cuidado com aquilo que deseja, pois certamente lhe será concedido."
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